Passive House: como construir casas confortáveis e que praticamente não usam energia



O mundo continua a precisar de respostas urgentes para combater as mudanças climáticas. E tendo em conta que as cidades consomem 75% dos recursos da Terra apesar de ocuparem apenas três porcento da superfície do planeta, há um potencial enorme para combatermos as emissões de CO2 nos centros urbanos.

Os edifícios, em particular, são uma fonte grande de emissões pelas variadas ineficiências que possuem. Em Portugal, todos nós já passamos por uma casa ou apartamento que é demasiado fria no inverno e quente no verão, o que condiciona o nosso conforto e leva a contas energéticas elevadas – e a mais emissões de CO2 do que seria desejável.

Mas estes problemas de isolamento térmico podem ser resolvidos de forma inteligente. O Passive House é um conceito nascido na Alemanha, que se traduz na construção/reabilitação de edifícios que consumam tão pouca energia quanto possível, mas também que proporcionem uma ventilação eficaz para promover a saúde de quem aí habita.

Estivemos à conversa com o arquiteto João Gavião, da Homegrid e membro fundador e presidente da Assembleia Geral da Associação Passivhaus Portugal sobre estes temas. Além da arquitetura, João Gavião tem um mestrado em Construção e Reabilitação Sustentáveis.

 

O que é o conceito Passive House?
O conceito Passive House é um conceito construtivo que assenta unicamente no desempenho, ou seja, com elevados e constantes níveis de conforto e qualidade do ar interior, e com baixíssimos consumos energéticos. As reduções da energia podem alcançar os 90% para aquecer e arrefecer quando comparamos com um edifício existente, e os 75% quando comparamos com um edifício novo e construído de acordo com a regulamentação actualmente em vigor.

Convidamos todos os interessados a conhecer e saber mais sobre o conceito na 6ª Conferência Passivhaus Portugal 2018, que irá acontecer nos dias 28 e 29 de Novembro de 2018, em Aveiro. A conferência tem a organização conjunta da Associação Passivhaus Portugal (http://www.passivhaus.pt) e da Homegrid (http://www.homegrid.pt).

Habitação de turismo construída segundo o conceito Passive House.

Quais são as grandes vantagens deste tipo de construção?
A maior vantagem é sem dúvida a qualidade de vida e o bem-estar proporcionados aos seus ocupantes. Ou seja, numa Passive House podemos usufruir de excelente conforto térmico e uma constante qualidade do ar interior. Além desta mais-valia, existe obviamente a poupança energética que se transforma numa menor renda de energia a pagar e também numa menor pegada ecológica por parte dos ocupantes do edifício.

 

O isolamento térmico também se aplica ao nosso clima mais quente no verão?
A prática mostra que os princípios Passive House são aplicáveis em qualquer tipo de clima e que esta abordagem é a que faz mais sentido. O desempenho das Passive Houses em climas mais quentes em geral, e em Portugal em particular, tem sido claramente satisfatório.

Temos que perceber que há uma variedade climática muito grande no nosso país. Mas, genericamente, com as nossas condições climáticas teremos sempre de encontrar um equilíbrio entre o desempenho do edifício no período de aquecimento e no período de arrefecimento.

 

E em Portugal? Já construímos assim ou há desconhecimento?
Neste momento existem seis Passive Houses certificadas em Portugal, estando em desenvolvimento (em construção e projecto) algumas dezenas. Dos projetos mais recentes, destacamos o primeiro escritório Passive House, que é o nosso escritório, concluído muito recentemente e desenvolvido pela Homegrid. Trata-se de uma reabilitação e é um projeto pioneiro, que será um exemplo demonstrador. Os resultados da sua monitorização serão disponibilizados em tempo real numa plataforma online.

Temos assistido a uma procura maior de clientes que pretendem construir ou reabilitar de acordo com a Passive House. E o foco destes clientes e promotores está na procura de um melhor produto, que assegure uma maior qualidade de vida e um maior retorno do investimento.

 

Quem tiver um apartamento e quiser convertê-lo para este conceito, pode fazê-lo?
A Passive House é aplicável a qualquer tipo de edifício, quer seja residencial ou de serviços, e em qualquer tipo de intervenção, quer seja construção nova ou reabilitação. A primeira reabilitação Passive House foi recentemente concluída e trata-se precisamente do nosso escritório.

Obviamente torna-se mais simples a aplicação do conceito numa construção nova, mas é perfeitamente possível e economicamente acessível reabilitar um edifício existente e dotá-lo deste desempenho. Aliás, no panorama actual, sem dúvida que o grande potencial de transformação está na reabilitação de edifícios existentes.

 

Há empresas de construção que usem o conceito Passive House? É preciso formação?
Existe neste momento já capacidade instalada para implementar edifícios Passive House. E é precisamente esta capacidade que queremos continuar a crescer e potenciar. E a formação é fundamental. É preciso perceber e entender o conceito e de que modo é que poderemos obter os melhores resultados, quer ao nível do desempenho do edifício quer ao nível do custo-benefício na construção e na operação.

E se os nossos leitores quiserem construir assim? Devem ter o quê em conta na hora de procurar uma empresa?
Deve ser sobretudo assegurada a garantia da qualidade, e essa garantia é sobretudo obtida pela certificação. Ou seja, deverão procurar profissionais com certificação Passive House.

No caso de profissionais da área de projecto ou consultoria terão de procurar por “Certified Passive House Designers” e no caso de profissionais mais ligados à obra terão de procurar por “Certified Passive House Tradespersons”. Em relação aos “Certified Passive House Designers”, são neste momento mais de 50 profissionais certificados, e em relação a “Certified Passive House Tradespersons”, são neste momento perto de 90 profissionais certificados.

Toda a certificação no sector Passive House a nível mundial é assegurada e controlada pelo Passive House Institute, sediado em Darmstadt, na Alemanha.

 

Por que razão não se constrói exclusivamente deste modo? São os custos ou o desconhecimento?
É aceite sem discussão que a Passive House corresponde ao mais elevado desempenho no sector dos edifícios. Nenhuma outra abordagem consegue conjugar os níveis de conforto, qualidade do ar interior e consumo energético como a Passive House. Para se conseguir este nível de desempenho teremos de fazer bem o nosso trabalho nas diferentes fases do processo.

A grande pressão existente no sector, de satisfazer rapidamente a procura, faz com que as questões associadas ao desempenho dos edifícios, como o conforto térmico e acústico, a qualidade do ar interior, a ausência de futuras patologias, sejam relegadas para um plano secundário na maior parte dos investimentos. No entanto, verificamos que, sobretudo nos centros urbanos, os preços de venda tem estado continuadamente a crescer. A questão não está, portanto, nos custos associados à Passive House.

É necessário continuar a apostar na consciencialização e na formação. É fundamental colmatar as lacunas existentes na formação académica e profissional relativamente ao desempenho dos edifícios. E é também fundamental que o público em geral perceba que a maior parte do parque edificado que utilizamos (habitação, escritórios, escolas, etc.) não contribui para a qualidade de vida das pessoas. Os edifícios são responsáveis directa e indirectamente por uma grande parte dos problemas de saúde dos portugueses, e a Passive House oferece uma resposta eficaz, custo-eficiente e com provas dadas.

Conversão de escritório para conceito Passive House.




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