81% dos habitats de zonas húmidas em Portugal encontram-se ameaçados
Cerca de 81,6% dos habitats relacionados com as zonas húmidas, em Portugal, encontram-se degradados, sendo que das 43 representações de 22 habitats, divididos pelas cinco regiões biogeográficas, 22 estão em estado de conservação desfavorável, nomeadamente habitats costeiros, como os prados salgados, ou as charcos temporárias e permanentes de água doce. Destes, nove estão mesmo em mau estado, entre os quais as lagunas costeiras, os charcos temporários mediterrânicos ou as turfeiras de transição e turfeiras ondulantes.
“Esta situação comprova que a atribuição de um estatuto de protecção a um determinado local nem sempre significa uma garantia de conservação ou do seu uso sustentável”, explica em comunicado a recém-lançada Zero (Associação Sistema Terrestre Sustentável)
Estes dados são mais negativos quando se sabe que Portugal possui apenas 1,8% do seu território ocupado por zonas húmidas – e apenas parte deste valor está protegido pela Convenção de Ramsar, que abrange 31 sítios protegidos, totalizando cerca de 132.487 hectares, ou seja, 79% do total das zonas húmidas existentes em Portugal.
“O Estado português tem falhado por inacção e um caso flagrante é a ausência de qualquer plano de ordenamento dos estuários – um dos mais importantes e produtivos habitats costeiros – passados dez anos sobre a publicação da Lei da Água”, continua a Zero. Apesar de várias tentativas de elaboração destes planos – o Estuário do Sado, por exemplo, foi excluído à partida – nem a implementação de conselhos consultivos para esse efeito ultrapassou a situação.
Em termos globais, a degradação das zonas húmidas está associada à construção de infra-estruturas, conversão para a agricultura e floresta, sobre-extracção insustentável de água, poluição e contaminação, sobre-exploração dos seus recursos e à proliferação de espécies exóticas invasoras. Estima-se que, desde os inícios do século XX até aos nossos dias, tenham desaparecido entre 64 a 71% destes espaços em todo o mundo. A região do Algarve, em Portugal, é um exemplo desta situação, já que se aponta para que 70% das zonas húmidas da região tenha desaparecido no século passado.
O Dia Internacional das Zonas Húmidas comemora-se amanhã, 2 de Fevereiro. Saiba por que são importantes as zonas húmidas.
POR QUE SÃO IMPORTANTES AS ZONAS HÚMIDAS?
1.As zonas húmidas e os aquíferos são decisivos na regulação do ciclo hidrológico. No caso das inundações, contêm e abrandam a força das águas através dos processos de infiltração, reduzindo a energia das cheias após os picos de precipitação.
2.São também “reservatórios” de biodiversidade, já que abrigam milhares de espécies animais e vegetais e são autênticas infraestruturas ecológicas, fornecedoras de serviços de ecossistema (benefícios) às comunidades humanas, nomeadamente regulação climática, protecção costeira, alimentos (por exemplo: as zonas húmidas, como os sapais e os pauis constituem viveiros de muitas espécies com elevado valor económico), bem como a maior parte da água que consumimos, em quantidade e em qualidade.
3.A água, a alimentação e a energia são variáveis de uma equação, cuja solução representa um dos grandes desafios da sustentabilidade neste século, devendo as zonas húmidas ser parte integrante do planeamento e gestão criteriosos dos recursos hídricos por parte das autoridades públicas.
Foto: See-ming Lee / Creative Commons