A inovação portuguesa que salva 4.000 aves/ano de morrerem nos parques eólicos (com VÍDEO)
O parque eólico do Barão de São João, em Lagos, é provavelmente o mais polémico de Portugal. Instalado num local protegido e que pertence à rede Natura 2000, os 25 aerogeradores tiveram parecer desfavorável em 2003,mas acabaram por ter aval de construção dois anos depois.
O problema do parque eólico é a grande sensibilidade ambiental da área, sobretudo a rota outonal das aves planadoras e das suas espécies prioritárias, a águia de Bonelli e o falcão-da-rainha.
Um dos impactos negativos referenciados tinha como pano de fundo o chamado “efeito barreira” provocado pela grande quantidade de pás dos rotores das aerogeradoras – um problema global, na verdade. Assim, estas giram nas alturas utilizadas nos voos migratórios, o que poderá causar o afastamento das aves para rotas menos favoráveis.
O parque foi inaugurado em 2010, e desde então uma equipa de seis a dez ornitólogos monitoriza o voo das aves. A missão é controlar a rota das aves que, quase sempre, atravessam o estreito de Gibraltar, mas por vezes se desorientam.
“Quando chegam estão totalmente perdidas e têm de voltar a encontrar o caminho de volta. E o caminho correcto passa por voltar para trás em direcção a Espanha”, explicou ao Economia Verde o biólogo Alexandre Leitão.
Uma das soluções para monitorizar as aves é o bird track, uma espécie de radar que consegue detectar as aves a grande distância – mais longe do que o olhar treinado de cada um dos membros da equipa. Quando os biólogos pressentem que uma ave pode colidir contra um aerogerador, é dada ordem para estes pararem.
“Até podemos parar o parque eólico, consoante as circunstâncias”, continuou Alexandre Leitão, que acrescenta que entre dar a ordem para parar e os aerogeradores realmente pararem passam apenas entre cinco a sete segundos. Um tempo precioso quando estamos a falar de aves raras.
Este é o único parque eólico português que monitoriza as aves com o bird track, um produto desenvolvido pela consultora ambiental Strix e que já recebeu um convite para o Egipto. “Esta unidade funciona, em Lagos, como um projecto piloto. [No Egipto] terá a oportunidade de internacionalização e exportação”, explicou Miguel Repas, da Strix.
No ano passado, e durante os quatro meses de trabalho no terreno, estes aerogeradores pararam 64 vezes, o equivalente a 45 horas e apenas 0,5% na produção total anual. Todos os anos, mais de quatro mil aves de 37 espécies passam pelo parque eólico do Barão de São João.
Saiba mais sobre este magnífico projecto no episódio 306 do Economia Verde.