Agricultores de Évora dizem que chuva ajuda, mas querem medidas do Governo



A chuva dos últimos dias minimizou a seca no Alentejo, mas faltam medidas para um problema que “começa a não ser pontual”, afirmou hoje o presidente da Associação dos Jovens Agricultores do Sul (AJASUL), Diogo Vasconcelos. Já os agricultores de Portalegre classificaram hoje como uma “agradável surpresa” as chuvas que caíram nos últimos dias, em tempos de seca, mas disseram temer que o tempo quente regresse e agrave os problemas do setor.

Em declarações à agência Lusa, o dirigente associativo considerou que o problema da seca “não fica resolvido, nem pouco mais ou menos”, com a chuva que caiu nos últimos dias na região, mas foi “minimizado um bocadinho”.

“Choveu alguma coisa e, obviamente, que vem melhorar a situação”, reconheceu, vincando, contudo, que “não é com quatro dias de chuva, mesmo que intensa, pontualmente, que a seca se resolve, porque a falta de água ainda é muito grande”.

Segundo as estimativas do presidente da AJASUL, sediada em Évora, terá chovido, desde segunda-feira passada, neste distrito alentejano, “entre 50 e 100 litros por hectare”, dependendo dos locais.

“Com esta chuva, começa-se a repor o nível de água no solo, mas também não se vai notar muito, porque o solo estava tão seco que a água não fica disponível para as plantas e o solo retém esta água toda”, referiu.

O também agricultor disse que, devido à chuvada intensa e trovoadas dos últimos dias, algumas culturas podem ter sofrido “algumas perdas de produção”, nomeadamente as que estão em fim de ciclo, como as vinhas, olivais e amendoais.

Esperando que “outubro e o resto de setembro venham com precipitação”, Diogo Vasconcelos advertiu que o Governo, até agora, “não tomou uma única medida para mitigar a falta de água”, devido à seca meteorológica.

“Não houve construção de barragens, não houve, como foi pedido, a facilitação dos processos para construção de barragens”, vincou, alertando que “a seca começa a não ser pontual e vai ser cada vez mais grave e intensa”.

Nesse sentido, o presidente da AJASUL defendeu que o país deve adotar medidas estruturais para mitigar os efeitos da falta de chuva, nomeadamente “melhorar a eficiência da captação e retenção de água nos solos”.

“Tem chovido menos e nós temos que resolver o problema, porque não é com paliativos que se cura uma doença crónica”, avisou.

O dirigente associativo acusou ainda o Governo de não ter feito chegar “nenhuma ajuda aos agricultores” para fazerem face à seca e aos aumentos dos custos de produção, que, em algumas áreas, “podem chegar aos 200%”.

A AJASUL, com sede em Évora e polos em Reguengos de Monsaraz e Portel, tem cerca de 1.000 associados, todos no distrito de Évora.

Chuva em Portalegre foi “surpresa”, mas tempo quente ainda ameaça

Já os agricultores de Portalegre classificaram hoje como uma “agradável surpresa” as chuvas que caíram nos últimos dias, em tempos de seca, mas disseram temer que o tempo quente regresse e agrave os problemas do setor.

Contactada pela agência Lusa, a presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, Fermelinda Carvalho, considerou que as chuvas que caíram na região nos últimos três dias foram uma “surpresa” e que as mesmas são “muito bem-vindas” num ano de seca.

“Foi uma agradável surpresa a quantidade de água que caiu nestes últimos três dias, numa altura em que vivemos uma das maiores secas de que todos nós nos lembramos. Estas chuvas são mesmo muito bem-vindas”, disse.

De acordo com a presidente da AADP, há registo de pequenas charcas, em determinadas zonas daquela região, que já ficaram cheias, mas alertou que, na maioria, as linhas de água “ainda não estão a correr”.

“As barragens, por norma, só enchem quando começa a sobrar nos solos, quando os ribeiros começam a correr e ainda não estamos nesse ponto. Esta água que cai é toda absorvida pelo solo que estava em grande défice”, acrescentou.

No entanto, a dirigente considerou que estas primeiras chuvas são “uma boa ajuda”, dando como exemplo a produção de azeitona, fruto que estava “muito necessitado” de água para melhorar a sua qualidade.

“Eu acho que [a chuva] ainda vai ajudar muito a produção que este ano é fraca, em alguns olivais até se perdeu totalmente devido ao calor e à falta de água”, disse.

Fermelinda Carvalho indicou ainda que estas primeiras águas trazem para o setor a “expectativa” de desenvolvimento de algumas pastagens e sementeiras, mas tal depende da evolução do tempo quente, que poderá ainda regressar.

“Há a expectativa que esta chuva permita o desenvolvimento de algumas pastagens. Depende muito do calor que vier a seguir e se continua ou não a chover e também em relação à preparação dos solos para as próximas sementeiras”, observou.

Em termos das vindimas, que estão a decorrer, e numa primeira análise, Fermelinda Carvalho considerou que a chuva “não vem alterar” a qualidade das uvas, mas, caso o tempo quente regresse, pode vir a prejudicar algumas variedades.

“É uma cultura que já está numa fase muito final, a chuva não vem alterar a qualidade da uva, porque ela já está em condições de ser colhida e outras até já foram”.





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