Alterações climáticas: estudo alerta para perdas massivas na economia do mar



No cenário atual, as alterações climáticas podem causar uma perda de mais de 90% das receitas no turismo nas áreas de recifes de coral, enquanto alguns países da Africa Ocidental vêm as previsões para os seus stocks de pesca diminuírem em 85%, de acordo com novo estudo sobre os impactos climáticos país-a-país nos setores chave da economia do mar publicado hoje, enquanto os lideres mundiais estão reunidos em Madrid na Conferência do Clima (COP25).

A análise detalha uma vasta lista de impactos severos que as alterações climáticas irão provocar nos oceanos e na economia do mar e apela a uma resposta global de futuro, cooperativa e equitativa.

Esta análise insiste numa ação urgente para travar as emissões globais de carbono, associada a uma abordagem adaptativa à gestão dos nossos recursos oceânicos de forma a enfrentar um aumento expectável das diferenças socioeconómicas. Tal resposta irá, não só, melhorar a resiliência e a prova-de-futuro destas indústrias vitais, mas poderá também aumentar os lucros.

Steve Gaines, coautor desta análise e representante do grupo de especialistas do Painel de Alto- Nível4 afirma: “Só agora começamos a compreender o pleno impacto que o atual nível do aquecimento global irá desencadear nas nossas indústrias de base-marítima chave – e está a arrefecer.

Para evitar a crise económica eminente, a devastação alargada das comunidades, fome e os conflitos por recursos nas próximas décadas, devemos restaurar com urgência a saúde dos oceanos. Isto quer dizer agir rapidamente e de forma ambiciosa para travar as alterações climáticas, enquanto se alivia as outras enormes pressões que pomos sobre os oceanos. Felizmente, ações corajosas tomadas hoje poderão ter benefícios significativos para a maioria dos países.”

Aplicando novos modelos para avaliar os impactos a nível regional e nacional, a análise constrói-se sobre as estimativas do Painel intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) sobre o declínio na saúde dos oceanos induzida pelo clima que vai custar à economia global entre 428 mil milhões de dólares em 2050 e 1 979 mil milhões de milhões de dólares em 2100.

Isto realça que, enquanto a severidade varia de forma significativa em diferentes países e cenários climáticos, os mais impactados negativamente serão os países em desenvolvimento ao longo do equador que menos têm contribuído para o nível atual de aquecimento global e que frequentemente dependem do turismo nas áreas de recifes de coral e dos stocks pesqueiros para sustentar o seu modo de vida e garantir a segurança alimentar.

Uma conclusão importante é a extensão das migrações dos peixes para águas mais frias à medida que o oceano aquece e se torna mais ácido nos cenários climáticos futuros. Isto irá prejudicar as comunidades pesqueiras em algumas regiões e aumentar o potencial para conflitos devido a alterações da disponibilidade de recursos.

O Presidente do Gana, Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, afirmou: “É obvio que as alterações climáticas são a razão da acentuação as diferenças globais, tornando ainda mais difícil para os países em desenvolvimento como o nosso suportar os seus impactos desastrosos. Para atingir o nosso objetivo de uma Africa para além do Auxílio, enquanto se evita o aumento dos conflitos por recursos, a nossa resposta às alterações climáticas deve ter visão de futuro, e deve ser cooperativa e equitativa.

Repensar como gerimos os nossos recursos enquanto as espécies saem e entram nas nossas águas é vital, não só para a nossa produção sustentável de alimento e prosperidade, mas também para a nossa própria sobrevivência a médio prazo”.

O turismo em áreas de recife de coral, que vale 35.8 mil milhões de dólares ao ano globalmente, sofrerá também muito o impacto das alterações climáticas. A análise país-a-país mostra que, de acordo com o nível atual, as alterações climáticas irão causar uma perda de rendimentos de mais de 90% em todas as regiões em 2100, subindo para uma média de 95% no Egipto, na Indonésia, no México, na Tailândia e na Austrália, a base das cinco maiores indústrias de turismo em áreas de recifes de coral. Mesmo que se adotem medidas para cortar as emissões de carbono, é expectável que a indústria sofra perdas económicas até 66%.

O Primeiro Ministro da Jamaica, Andrew Holness, afirma: “Os pequenos Estados-Ilha como a Jamaica, têm contribuído ainda menos para as alterações climáticas, em virtude da nossa geografia, somos fisicamente vulneráveis à retirada do turismo, e por isso também fiscalmente vulneráveis aos seus impactos. Quase um quarto da nossa economia é originada pelo turismo, por isso é imperativo uma ação rápida para reverter estes impactos catastróficos nos nossos recifes de coral. A Jamaica irá fazer o seu papel, e esperamos que os países em desenvolvimento façam o mesmo.”

O estudo apela a uma resposta com visão de futuro, cooperativa e equitativa para a gestão dos impactos das alterações climáticas na economia do mar. Este dá ênfase à importância da gestão adaptativa das pescas e a novos acordos cooperativos através das fronteiras nacionais, regionais e internacionais para garantir que as espécies sejam bem geridas à medida que os seus habitats se alteram. Este estudo sublinha que muitos países poderiam manter, mesmo aumentar os lucros e capturas no futuro através desta abordagem, porém destaca que mesmo as melhoras reformas das pescas não serão capazes de neutralizar os cenários mais negativos de alterações climáticas6.

Nestas circunstâncias, o desenvolvimento de uma maricultura sustentável e climaticamente resistente poderia ser uma parte importante da solução para alguns países. Para ajudar a preservar a indústria do turismo em áreas de recife, a resiliência dos ecossistemas oceânicos deve ser reforçada através da conservação, restauração e outras medidas, tais como a redução do impacto climático do turismo.

Eric Schwaab, Vice-presidente sénior, Fundo de Defesa Ambiental dos Oceanos (Oceans Environmental Defense Fund) e membro da rede de aconselhamento do Painel de Alto-Nível, disse: “A magnitude das perdas será substancial se falharmos na adoção em paralelo de medidas na gestão das pescas e de ação climática. As alterações climáticas já estão a alterar fundamentalmente os ecossistemas oceânicos, a impactar a abundância e de peixes e as áreas de captura. Mas nem tudo está perdido. Se limitarmos as emissões de carbono e acelerarmos na gestão e sustentável das pescas, o oceano pode ainda ser uma importante fonte de alimento, nutrição, de sustento e bem-estar para milhões de pessoas em todo o mundo”.





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