Alterações climáticas: Falhar na proteção dos insetos reduz “drasticamente” possibilidade de um futuro sustentável, alertam cientistas



O aquecimento global e eventos climáticos extremos estão a ameaçar diversas espécies de insetos e a empurrar algumas para o limiar da extinção. Se não forem tomadas medidas para combater as alterações climáticas e para proteger esses animais, a situação só tenderá a piorar, reduzindo “drasticamente” a capacidade das sociedades humanas para construírem “um futuro sustentável apoiado em ecossistemas saudáveis e funcionais”.

Um grupo de 70 cientistas de 19 países escreveu um artigo, publicado na revista ‘Ecological Monographs’, da Sociedade Ecológica da América, no qual alertam que a perda de biodiversidade é uma das tendências mais preocupantes que hoje assolam o nosso planeta, “porque causa a degradação das comunidades ecológicas”. E apontam como principais motores dessa perda de diversidade a alteração ou destruição de habitats, a sobrexploração de recursos naturais, a poluição, espécies invasoras e, claro, as alterações climáticas provocadas pela ação humana.

“Alguns insetos serão forçados a migrar para climas mais frescos para sobreviverem, enquanto outros enfrentarão impactos ao nível da sua fertilidade, dos seus ciclos de vida e das suas interações com outras espécies”, assinalam os especialistas.

Anahí Espíndola, professora de Entomologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e uma das autoras do artigo, avisa que essas consequências prejudicais da degradação ambiental não se limitam à esfera dos ‘outros animais’ e que terão impactos também sobre as comunidades humanas.

“Precisamos de perceber, enquanto humanos, que nós somos uma espécie em milhões de espécies, e não há razão para assumirmos que nunca nos extinguiremos”, argumenta, explicando que “estas alterações nos insetos podem afetar a nossa espécie de formas bastante dramáticas”.

O papel dos insetos na saúde e funcionamento dos ecossistemas é “central”, contam os cientistas, pois reciclam nutrientes e servem de alimento a outros organismos ao longo da cadeia alimentar, “incluindo humanos”. Além disso, grande parte dos sistemas mundiais de produção alimentar dependem de insetos polinizadores, tais como abelhas e borboletas, e ecossistemas saudáveis têm maior capacidade para combater doenças.

Esses sistemas de ecossistemas, contudo, podem vir a ser destruídos com o avanço das alterações climáticas. “Ao contrário dos mamíferos, muitos insetos são ectotérmicos”, ou seja, não conseguem regular a sua temperatura corporal, estando dependentes de fontes de calor externas. Essa dependência de fatores externos pode fazer com que os insetos sejam mais intensamente afetados pelas alterações climáticas, comparativamente a outros animais.

Para poderem sobreviver, os insetos têm de migrar para locais onde as condições lhes sejam mais favoráveis. Os especialistas estimam que, se a temperatura média global atingir os 3,2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, o alcance de quase metade de todas as espécies de insetos diminuirá 50% ou mais. Caso se consiga limitar o aquecimento global a 1,5 graus, tal como preconizado o Acordo de Paris de 2015, esse valor cairá para 6%.

Quando menor alcance tiverem as populações de insetos, isto é, quando mais a condições climáticas limitam essas populações a áreas cada vez mais restritas, menor será a diversidade genética desses animais, podendo colocar em risco a sua capacidade de adaptação e a sua própria sobrevivência.

No revés da medalha, as alterações climáticas podem fazer com que determinadas espécies se reproduzam mais e se conseguiam disseminar por áreas cada vez mais extensas, podendo representar riscos para culturas agrícolas e para a própria saúde humana.

Apesar de os insetos estarem já a ser afetados pelas alterações climáticas, os cientistas acreditam que ainda não é demasiado tarde para protegê-los de perdas ainda maiores. Para isso, defendem o abandono dos combustíveis fósseis, o combate a poluição do ar, o restauro e proteção permanente de ecossistemas, a promoção de dietas essencialmente baseadas em plantas, a transição para uma economia circular e a estabilização da população humana mundial.





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