Alterações climáticas obrigam baleias a mudar hábitos de alimentação e de reprodução
As baleias são dos maiores animais que habitam os oceanos. Embora algumas espécies atinjam tamanhos enormes, tendem a alimentar-se, sobretudo, de pequenos crustáceos, como o krill, embora outras, como as orcas, cacem presas de maiores dimensões. Apesar do tamanho, esses animais estão vulneráveis às alterações climáticas.
Tal como acontece com incontáveis outros animais, também as baleias são afetadas pelas transformações climáticas, sendo que a sua capacidade de adaptação está a ser alvo de estudo por parte dos cientistas.
Um grupo de investigadores analisou registos recolhidos por caçadores de baleias ao longo dos últimos 30 anos e percebeu que as baleias-franca-austrais (Eubalaena australis), nesse período, modificaram os seus territórios de alimentação, à medida que as mudanças climáticas provocaram a deslocação das suas presas para novas áreas.
Emma Carroll, bióloga da Universidade de Auckland, na Austrália, e autora do artigo publicado esta semana na revista ‘PNAS’, explica que nas últimas três décadas essas baleias passaram a frequentar com maior regularidade zonas de alimentação no Sul do Oceano Atlântico e na região sudoeste o Oceano Índico, no final do verão e no outono. Os mais de 30 cientistas que participaram neste trabalho perceberam também que passou a haver, ainda que em menor grau, um aumento da frequência de áreas no sudoeste do Pacífico.
Escrevem os autores que as baleias-francas-austrais, que habitualmente vivem abaixo da linha do equador, podendo estender-se até ao limiar do círculo polar antártico, foram caçadas quase até à extinção. No entanto, devido à proibição internacional de caça à baleia, conseguiram recuperar ligeiramente.
Outro artigo, divulgado na ‘Ecology and Evolution’, revela que as baleias-azuis (Balaenoptera musculus), o maior animal que hoje vive, estão também a ser impactadas pelas alterações climáticas, especialmente pela subida da temperatura da água do mar e pelas ondas de calor marinhas.
Durante dois anos, os investigadores estudaram as vocalizações produzidas por esses gigantes marinhos variavam consoante as condições ambientais, e o seu comportamento sofriam alterações, potencialmente perigosas para a sobrevivência desta espécie.
Entre 2016 e 2018, uma onda de calor marinha varreu as águas da Nova Zelândia, onde decorreu a investigação. Nesse período, os cientistas registaram uma diminuição das vocalizações associadas à procura de alimento, sugerindo que o aumento da temperatura reduziu a presença de espécies-presa.
E os efeitos dessa alteração ambiental brusca prolongaram-se até à época de reprodução seguinte, com as vocalizações produzidas a indicarem, segundo os investigadores, que depois de uma onda de calor marinha, e da consequente redução do número de presas, as baleias-azuis “esforçavam-se menos” na reprodução.
Atualmente, a espécie está classificada como ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), depois de ter sido caçada quase até à extinção no início do século XX.
A caça à baleia para fins comerciais foi banida em 1986, mas, desde então, e segundo a organização Whale and Dolphin Conservation, o Japão, a Noruega e a Islândia terão caçado perto de 40 mil desses animais. Em outubro passado, na 68.ª reunião da Comissão Baleeira Internacional (IWC), um órgão internacional que regula a caça à baleia, uma moção apresentada pelo Estado de Antígua e Barbuda pretendia reverter a proibição e voltar a permitir essa atividade.
No entanto, a moção acabou por ser retirada, depois de ter ido rejeitada pela maioria dos países que fazem parte da IWC.
Embora esse perigo tenha, pelo menos por agora, sido evitado, as alterações climáticas mantém-se como uma das principais ameaças às baleias. O aumento da temperatura da água do mar provoca a degradação dos habitats, a deslocação das suas espécies-presa e a sua capacidade de reprodução, colocando uma ainda maior pressão sobre um grupo de animais que procura recuperar das perdas sofridas nos últimos séculos.
Além disso, as baleias são também centrais no combate às alterações climáticas, pois os seus dejetos fertilizam as algas marinhas e as suas movimentações ajudam na circulação de nutrientes, contribuindo para a produção de oxigénio (cerca de metade de todo o oxigénio a nível global é produzido pelas plantas marinhas) e para o sequestro de carbono.
“Quanto mais baleias existirem, mais saudável serão os oceanos e menos dióxido de carbono existirá na atmosfera”, explica a organização de defesa dos cetáceos.