Amazónia: Maior árvore da América Latina ameaçada pela desflorestação
A destruição da floresta amazónica continua a superar recordes, sempre pela negativa. Sendo um dos biomas mais biologicamente diversos do planeta (tal como são muitas outras florestas tropicais), estima-se que seja a casa de 9% das espécies de mamíferos, de 14% das espécies de aves, de 8% das espécies de anfíbios, de 13% das espécies de peixes de água doce e de 22% das plantas vasculares de todo o mundo. Mas continua a ser devastada pela mão humana para dar lugar a explorações agrícolas e terrenos de pasto, para a extração de matérias-primas e para o desenvolvimento urbanístico.
De acordo com a organização ambientalista brasileira Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, em novembro a área desflorestada foi 23% superior à do mesmo mês de 2021, com a destruição de 590 quilómetros quadrados de floresta tropical.
Contas feitas, desde janeiro, a Amazónia perdeu mais 10.286 km2 de floresta, uma área que equivale, aproximadamente, a três mil campos de futebol por dia.
E os ambientalistas alertam que a árvore mais alta da América Latina, e a quarta mais alta do mundo corre o risco de desaparecer devido a essas ações destrutivas. Trata-se de um angelim-vermelho (Dinizia excelsa), descoberto em 2019 na Floresta Estadual do Paru, no norte do estado do Pará. Tem 400 anos de idade, quase 90 metros de altura e um tronco com perto de 10 metros de circunferência.
Segundo a Imazon, essa área florestal, inserida no bioma amazónico, foi a terceira mais desflorestada em novembro, e tem sido fortemente pressionada, sobretudo, pela extração de metais e minerais preciosos (o garimpo) e pela apropriação ilegal de terras através de documentos falsificados (a grilagem).
Essas atividades “colocam em risco não apenas a árvore recordista, mas também um santuário de angelins com alturas superiores a 70 metros” localizado na Floresta Estadual do Paru.
Jakeline Pereira, investigadora na Imazon, afirma, em comunicado da mesma organização, que essa floresta no Pará “é um verdadeiro santuário das árvores gigantes da Amazónia” e, por essa razão, “é extremamente grave que o desmatamento esteja avançando sobre o local”.
E insta o governo do Pará, que tutela a Floresta Estadual do Paru, a “urgentemente cancelar” os registos de propriedade ilegais e “a retirar os invasores da unidade de conservação”.
A desflorestação da Amazónia entre janeiro de novembro deste ano foi, segundo a organização, a pior desde 2008, e 72% da destruição está concentrada nos estados do Pará, do Mato Grosso e do Amazonas.
“É importante lembrar que a lei permite que os governos dos estados atuem para combater o desmatamento tanto em áreas estaduais quanto federais. Além disso, têm o dever de cancelar os Cadastros Ambientais Rurais (CARs) sobrepostos às áreas protegidas, como terras indígenas e quilombolas e unidades de conservação”, assinala Bianca Santos, outra investigadora da Imazon.
De recordar que um relatório publicado no mês passado pela World Wildlife Foundation (WWF), intitulado ‘Living Amazon Report 2022’, revelou que “a Amazónia está atualmente numa situação crítica, enfrentando uma variedade de pressões e ameaças, quer à sua biodiversidade, quer aos povos e comunidades tradicionais que aí vivem”. Estima-se que a Amazónia seja casa para 47 milhões de pessoas, entre elas 2 milhões de indígenas distribuídos por mais de 500 grupos distintos.
E a organização ambientalista sublinha que mais de 18% dessa floresta tropical já foi destruída e que uns adicionais 17% estão classificados como degradados. O pastoreio extensivo, a agricultura e atividades extrativistas, tanto legais como ilegais, como a mineração, “ameaçam a região e causam a desflorestação e a degradação do bioma, com muitas áreas severamente afetadas”.