Análise Green Savers: para onde caminha o BCSD?
A 10ª conferência do BCSD Portugal não desiludiu as expectativas: o auditório do Centro de Congressos do Estoril estava cheio, o debate fluiu de forma interessante e o cenário exterior – o Green Festival – também era o ideal.
O que ficou, então, de seis horas de trabalhos? De manhã, o destaque vai para o desafio colocado pelo director-geral da Cotec, Daniel Bessa, ao BCSD. Explicou o ex-ministro da Economia do Governo de António Guterres que o BCSD deveria alargar o seu raio de actividade, englobando não só a sustentabilidade mas também a responsabilidade social.
“Não vejo nenhuma outra casa que, em Portugal, possa albergar todas as preocupações sobre a vida das empresas, sobre a sustentabilidade e responsabilidade”, explicou Daniel Bessa, esclarecendo que estava a falar de questões relacionadas não só com o ambiente mas também com a corporate governance, códigos de ética, reputação, saúde, higiene e segurança no trabalho, responsabilidade social e inovação.
José Honório, o presidente do BCSD, respondeu a Daniel Bessa com a noção de que este conselho “não tem podido andar mais rápido”, mas que “adorava ter essa visibilidade na sociedade”.
Ainda assim, o responsável realçou os 130 membros que fazem parte do conselho – e que chegam por livre e espontânea vontade, não são procurados – e que os objectivos previstos em 2001 estava a ser cumpridos.
Da parte da tarde, o debate deixou-se levar por outros caminhos. Falou-se de sustentabilidade mas também de rentabilidade e crescimento económico. De um lado a visão de António Pires de Lima, presidente da Unicer, mais tradicional e conservadora, do outro a de Sérgio Figueiredo, que coloca o relacionamento com a sociedade e outros stakeholders relevantes – e não só os accionistas e colaboradores, como defendeu Pires de Lima – no centro da gestão empresarial.
Vasco de Mello, o presidente da José de Mello e da Brisa, disse também que a sustentabilidade não é a cura para todos os problemas e que Portugal não era um país sustentável.
Leia aqui as notícias que publicámos ontem sobre a conferência do BCSD.
Pelo meio, o responsável mundial da Accenture para a área de serviços de sustentabilidade, Bruno Berthon, explicou a forte evolução do sentimento dos CEOs globais pelos temas da sustentabilidade, nos últimos três anos. Para algumas indústrias, como a automóvel ou a dos serviços financeiros, a sustentabilidade significa – mesmo – sobrevivência.
“O sector automóvel esteve muito perto de desaparecer… A sustentabilidade é um tema global para a UBS. Os seus responsáveis perceberam que era uma questão de sobrevivência”, esclareceu.
Para além do sector dos transportes e bancário, também o da energia está em mutação por causa do tema do desenvolvimento sustentável. “O sector da energia vai ter que se reinventar nos próximos 50 anos”, explicou.
De acordo com o responsável, 80% dos CEOs mundiais considera que o “tipping point” em que a sustentabilidade estará directamente relacionada com o core business da empresa poderá ser atingido entre 10 a 15 anos. Não há muito tempo a separar-nos desse futuro.
Mais tarde, Berthon falou de um tema que, invariavelmente, acaba sempre por surgiu nas discussões sobre sustentabilidade. E o clientes? Comprarão mais caro pelo produto ou serviço ser sustentável? Será esta própria iniciativa, passo a redundância, sustentável? (ou “rentável”, nas palavras de Pires de Lima?)
A resposta não é fácil. Berthon diz que não podemos esperar que o consumidor entenda a oferta das empresas. “É preciso demonstrá-la, sermos mais específicos e sobretudo educar o consumidor. A Timberland fez isso recentemente, com os seus sapatos ecológicos. É o início da revolução”, revelou.
Contextualizando com a BCSD, se calhar é também por aqui que o conselho deverá começar. Educação. Dos consumidores mas também das empresas – suas associadas ou não.
No final da conferência, ficou a sensação de que o próximo triénio será fundamental para o futuro do BCSD, para a definição clara dos seus objectivos e para a colocação das empresas como o centro das políticas de sustentabilidade. “São elas o centro da riqueza, por isso têm que ser elas o centro das políticas de sustentabilidade”, argumentou Daniel Bessa na sua intervenção final.
O BCSD foi fundado há dez anos por iniciativa da Soporcel, Sonae e Cimpor e conta hoje com 130 membros. Comemora o 10º aniversário em Outubro do próximo ano. Nessa altura, como serão vistas, pelas empresas portuguesas, as políticas de sustentabilidade?