Animais são fundamentais para a “regeneração natural das florestas”



Nos últimos 50 anos, as populações de animais selvagens sofreram perdas de cerca de 70% em todo o planeta, especialmente devido às atividades humanas que causam a destruição dos seus habitats naturais. Contudo, esses mesmos animais são essenciais para a recuperação dos ecossistemas degradados, especialmente das florestas.

Numa altura em que perto de um milhão de espécies enfrentam a ameaça da extinção e em que os líderes mundiais adotaram, na cimeira da biodiversidade (COP15) que terminou ontem no Canadá, uma estratégia para travar e reverter a perda de natureza, cientistas do Panamá, da Colômbia e dos Estados Unidos alertam para o papel “único e vital” que as espécies de animais desempenham na dispersão de sementes e, dessa forma, na revitalização dos ecossistemas.

Por isso, devem ser considerados partes indispensáveis dos esforços de recuperação de áreas naturais degradadas.

Liza Comita, da Universidade de Yale e uma das autoras do artigo publicado na ‘Philosophical Transactions’, revista da The Royal Society, diz que quando se fala de recuperação das florestas as pessoas tendem a pensar logo em “cavar buracos e plantar plântulas”. Mas a especialista em ecologia das florestas tropicais diz que essa não é realmente a forma mais eficiente de restaurar as florestas, e que, ao invés, a abordagem à revitalização desses ecossistemas deve ter como elementos centrais os animais dispersores de sementes, especialmente mamíferos e aves.

Através da análise de dados, recolhidos durante quase um século por biólogos do Smithsonian Tropical Research Institute, sobre o Monumento Natural de Barro Colorado, no Panamá, os cientistas procuraram perceber qual o impacto desses animais em particular, comparando com outros métodos de dispersão de sementes, tal como o vento e a própria gravidade.

Vista aérea do Monumento Natural de Barro Colorado, no Panamá.
Crédito: Christian Ziegler, Max Planck Institute of Animal Behavior

E as conclusões indicam, sem sombra de dúvida, que os animais são essenciais para a “regeneração natural das florestas”, desde as mais jovens até às mais antigas, avançando os autores do estudo que mais de 80% das espécies de árvores presentes nesses ecossistemas resultaram da ação dos dispersores de sementes.

Numa altura em que as sociedades humanas por todo o mundo estão a mudar, umas mais do que outras, claro, a forma como olham para a natureza e para o lugar que o ser humano deve ocupar nela, os cientistas relembram que as florestas têm um papel inegável na captura de dióxido de carbono da atmosfera, retendo-o nos solos e na biomassa. E destacam a importância das florestas tropicais, que “desempenham um papel importante na regulação do clima global e na promoção da diversidade de plantas e animais”.

Outros dos autores do artigo, Sergio Estrada-Villegas, diz que “nesses ambientes tropicais, os animais são essenciais para recuperação rápida das florestas”, pelo que são elementos que não podem estar ausentes dos esforços de conservação e restauro da natureza, integrados no que é cada vez mais conhecido como ‘soluções baseada na natureza’.





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