Anomalias e mortes: Poluição por plástico está a ameaçar populações de ouriços-do-mar
O plástico é já considerado um dos poluentes mais abundantes nos mares e vários estudos já indicam que a sua presença nos ecossistemas marinhos está a ter impactos negativos e a colocar em risco espécies de fauna e de flora. Especialmente os microplásticos, partículas com menos de 5 milímetros e que já foram encontrados desde o Ártico até Antártida, representam perigos para o desenvolvimento de vários animais e, claro, para os ecossistemas como um todo.
Uma equipa de investigadores de Itália e do Reino Unido, através de experiências em laboratório, descobriu que os microplásticos podem prejudicar o desenvolvimento das larvas de ouriços-do-mar, e em concentrações elevadas resultam mesmo na morte desses animais no seu estádio embrionário.
Os cientistas recorreram a uma espécie particular de ouriço-do-mar, Strongylocentrotus purpuratos, e usaram concentrações diferentes de micropartículas de plástico para perceber os efeitos no desenvolvimento do animal. Em todas as três concentrações usadas (1%, 5% e 10%), as larvas dos ouriços-do-mar desenvolveram-se com “anomalias significativas” e todas acabaram por morrer.
Apesar de reconhecerem que as concentrações testadas muito raramente são encontradas na natureza, os especialistas dizem que, ainda assim, podem ocorrer, por exemplo, em zonas costeiras altamente poluídas por resíduos de plástico.
Eva Jimenez-Guri, da Universidade de Exeter e uma das autoras do artigo publicado na revista ‘Science of the Total Environment’, explica que “as larvas afetadas pela poluição por plástico exibiam problemas de crescimento”, entre elas malformações ao nível do esqueleto, do sistema nervoso e do sistema imunitário. Nessas larvas, os cientistas também verificaram que a mitocôndrias, organelos que geram a energia das células, “não funcionavam devidamente”, prejudicando as próprias células.
As anomalias observadas, e também os casos de morte, foram causados pela elevada concentração de zinco emanada pelas partículas de plástico, explicando os autores que o desenvolvimento dos invertebrados marinhos “é um estádio da vida particularmente sensível, pois acontece muito rapidamente e diretamente na água”.
Jimenez-Guri aponta que a equipa foi capaz de identificar os genes das larvas de ouriço-do-mar que foram afetados pelas substâncias poluentes e diz que esses mesmos genes são usados “por muitas espécies de animais nos primeiros estádios do seu desenvolvimento”.
“Por isso, é possível que a poluição por plástico possa causar anomalias semelhantes noutras espécies”, alerta a cientista, argumentando que “a poluição marinha por plástico continua a aumentar rapidamente, com consequências potencialmente sérias para a vida nos mares”.