Antártida: É “praticamente certo” que eventos climáticos extremos serão cada vez mais intensos e frequentes



É “praticamente certo” que eventos climáticos extremos, como as ondas de calor marinhas e a intensificação da perda de gelo, tornar-se-ão cada vez mais comuns e intensos na Antártida se não forem tomadas as medidas necessárias para travar o aquecimento global.

Este alerta, que vem engrossar um coro de vozes de alarme cada vez mais ensurdecedor, é feito por uma equipa internacional de investigadores do Reino Unido, do Chile e de África do Sul.

Num artigo publicado esta terça-feira na revista ‘Frontiers in Environmental Science’, os cientistas dizem que se não se agir rapidamente para limitar o aquecimento da Terra a 1,5 graus Celsius, segundo o Acordo de Paris de 2015, os eventos extremos que se têm vindo a observar na Antártida nos últimos tempos – aumento da temperatura abaixo e acima da superfície do mar, perda de gelo e de biodiversidade – serão apenas o início de um processo de transformação drástica que se estenderá pelas próximas décadas e tornará irreconhecível essa região do mundo.

Avisando que o que acontecer na Antártida inevitavelmente sentir-se-á por todo o planeta, Martin Stiegert, da Universidade de Exeter e principal autor do artigo, argumenta que neutralizar as emissões de gases com efeito de estufa é “a nossa melhor hipótese para preservar a Antártida”. O cientista salienta também que essa é uma luta que “deve importar a todos os países – e indivíduos – do planeta”.

Caso contrário, Stiegert diz que os países signatários do Tratado da Antártida, documento de 1959 que prevê a cooperação internacional pacífica nessa região, arriscam-se a violar os compromissos ambientais assumidos. Em 1991, em Madrid, os Estados do Tratado da Antártida assinaram o Protocolo sobre a Proteção Ambiental, no qual reconhecem “a necessidade para fortalecer a proteção do ambiente da Antártida” e dos seus ecossistemas.

O investigador diz que enquanto os países continuarem a explorar e queimar combustíveis fósseis, aconteça isso onde acontecer, “o ambiente da Antártida continuará a ser cada vez mais afetado de formas que são inconsistentes com o compromisso que assumiram”.

A equipa recorda que, em 2022, a região leste da Antártida sofreu a maior onda de calor alguma vez registada, com uma temperatura 38,5 graus acima da média, e que atualmente a quantidade de gelo marinho formado é a mais baixa de sempre. Além disso, essas alterações profundas estão também a ameaçar a biodiversidade da Antártida, uma vez que mares cada vez mais quentes põem em risco, por exemplo, as populações de krill, um pequeno crustáceo semelhante ao camarão que está na base das cadeias alimentares de muitos predadores. Como tal, com a redução da quantidade de krill disponível, é expectável que todas as espécies associadas serão fortemente afetadas.

“Os nossos resultados mostram que, embora se saiba que os eventos climáticos extremos impactam o mundo através de chuvas fortes e cheias, de ondas de calor e fogos florestais, como os que temos visto na Europa durante este verão, também têm impactos nas regiões polares mais remotas”, frisa Anna Hogg, da Universidade de Leeds e coautora do trabalho.

Por isso, a investigadora considera que “é essencial que tratados e políticas internacionais sejam implementados para proteger estas regiões belas, mas delicadas” da Terra.

À medida que o gelo desaparece, regiões polares que antes estavam inacessíveis passam agora a estar abertas à navegação, e os cientistas dizem que é preciso tomar medidas urgentes para não apenas assegurar que um desastre de maiores proporções é evitado, mas para garantir que o aumento da presença humana não agrava ainda mais um cenário já bastante negro.





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