Arquipélago dos Açores é um “oásis no meio do oceano Atlântico” para as baleias migratórias, diz WWF
Foi hoje lançado o relatório “Protecting Blue Corridors” pela World Wide Fund for Nature (WWF), um documento que analisa os registos de satélite de mais de 800 baleias em todo o mundo, e que aborda as crescentes ameaças que enfrentam nos seus habitats oceânicos preferidos. Este resulta de uma análise colaborativa de 30 anos de dados científicos, recolhidos por mais de 50 grupos de investigação, estando entre eles os investigadores Rui Prieto e Mónica Silva da Universidade dos Açores.
“Os impactos cumulativos das atividades humanas estão a criar um percurso de obstáculos perigosos e por vezes fatais“, alerta Chris Johnson, líder global para a conservação de baleias e golfinhos na WWF, reforçando que “O mais mortal de longe é o enredamento nas artes de pesca – matando cerca de 300 mil baleias e golfinhos por ano. Pior ainda, isto está a acontecer desde o Ártico até à Antártida”.
O caso português é também avaliado na publicação, mais precisamente o Arquipélago dos Açores, que consideram ser “um oásis no meio do oceano Atlântico” para os cetáceos, devido à elevada produtividade da sua dinâmica oceânica. Neste território português já foram identificadas 28 espécies diferentes, como por exemplo, a baleia-comum (Balaenoptera physalus), o cachalote (Physeter macrocephalus) e a baleia-azul (Balaenoptera musculus).
O facto de se situar ao longo da maior cordilheira submarina do Atlântico, numa zona geográfica temperada mas influenciada por correntes sub-tropicais, confere ao arquipélago dos Açores uma grande riqueza específica. As nove ilhas que rompem a superfície como os montes submarinos adjacentes, funcionam como uma espécie de “estações de serviço” para o fluxo da megafauna marinha para e pelo meio do Atlântico, explica a ANP|WWF.
Para Nuno Barros, especialista em Oceanos da Associação Natureza Portugal (ANP|WWF), “o paradigma moderno da conservação marinha (e não só) é o de proteger o património natural para benefício das pessoas e do planeta, numa lógica de ‘bem-comum’. Portugal tem aqui uma responsabilidade acrescida pois no que ao mar diz respeito: muito deste ‘bem-comum’ cai dentro da sua área de jurisdição – mais de 90% de Portugal é mar, e deste, cerca de 60% é mar dos Açores”, adverte.
No arquipélago está a ser trilhado um caminho no sentido de proteger este património de todos, com processos ambiciosos em curso para definir Áreas Marinhas Protegidas e a sua gestão, bem como melhorar a gestão das pescas. Tendo uma ligação cultural, histórica e económica ao mar que o rodeia, os Açores têm a possibilidade de ser um exemplo para o mundo na gestão sustentável dos ecossistemas marinhos, desde que haja meios e vontade de passar da teoria à prática.
O relatório expõe também pontos críticos e riscos que as baleias enfrentam nas suas migrações – cujas distâncias podem alcançar milhares de quilómetros por ano. A pesca e o enredamento nas redes de pesca, as plataformas de exploração e produção de petróleo e gás natural, as alterações climáticas, o tráfego marítimo e as falhas na regulação das atividades de observação de baleias, são as principais ameaças destacadas.
Como resultado destes perigos, seis das 13 grandes espécies de baleias são agora classificadas como Ameaçadas ou Vulneráveis pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), mesmo após décadas de proteção após a caça comercial à baleia. Entre as populações mais ameaçadas encontra-se a baleia-franca-do-Atlântico-Norte (Eubalaena glacialis), uma espécie que migra entre o Canadá e os Estados Unidos da América e que se encontra no seu ponto mais baixo em 20 anos em termos populacionais, contando apenas com 336 indivíduos.
A proteção dos Corredores Azuis exige uma nova abordagem de conservação para enfrentar ameaças crescentes e salvaguardar as baleias, através de uma cooperação reforçada desde os níveis local, regional e internacional. De particular urgência é o envolvimento com as Nações Unidas, que deverá concluir as negociações sobre um novo Tratado para o Alto Mar (zonas fora da jurisdição nacional) no próximo mês de março.