As angústias de um agricultor sustentável



Toda a gente adora os mercados de agricultura sustentável, mas poucos conhecem os obstáculos com que se deparam os agricultores que ali vendem os seus produtos. Segue-se, por isso, uma história sobre a educação – e as angústias – de um agricultor familiar de Sequatchie, Tennessee, nos Estados Unidos, que se esforça por trabalhar de forma ecológica.

Bill Keener, de 52 anos, opera a Sequatchie Cove Farm, no Tennessee, Estados Unidos, há 20 anos, numa área de 121 hectares, onde vive com a esposa, o filho, a filha, o neto e os sogros. As suas casas são movidas a energia solar, os seus frutos e legumes são orgânicos e as suas vacas e ovelhas pastam de forma holística.

A história de Keener ilustra a forma como é difícil para as pequenas explorações competir com o que é muitas vezes designada de agricultura industrial: as grandes empresas de sementes, as grandes quintas, as grandes instalações de produção de carne e os grandes supermercados que fornecem as grandes quantidades de comida barata às mesas das pessoas.

Keener estudou estética japonesa, filosofia e educação especial – nunca esperou tornar-se agricultor. Mas a oportunidade de criar a sua família numa quinta seduziu-o e rapidamente percebeu que adorava o trabalho. Tem mostrado vontade de experimentar novos mercados e modelos de negócio e, ao longo dos anos, tem produzido vegetais, fruta, cogumelos, galinhas, porcos, vacas e ovelhas.

Uma das primeiras desvantagens competitivas com que se depara é, segundo o Guardian, política: ao contrário dos grandes produtores de soja e milho, Keener não recebe qualquer ajuda do governo. Os subsídios são a razão pela qual os alimentos em cadeias como Walmart ou McDonald’s – seus concorrentes – são tão baratos.

Outro problema que enfrenta, ao contrário das grandes cadeias, é ter de fazer o seu próprio design de produto, marketing, distribuição e atendimento ao cliente. Depois de um dia a ordenhar vacas ou a trabalhar nos campos, Keener ainda tem de responder a emails de clientes e actualizar a página de Facebook da quinta.

Também a venda de produtos como o queijo continua a ser uma luta – os reguladores estaduais e federais são “muito contraditórios”, defende o agricultor.

As organizações sem fins lucrativos, como a Gaining Ground e Crabtree Farms, que promovem os alimentos e as quintas em torno de Chattanooga, estão a tentar ajudar nesta questão. Estima-se que menos de 1% do dinheiro gasto em alimentação na região vá para os agricultores locais – se conseguirem aumentar esse valor para 5%, €74 milhões (R$ 220 milhões) permanecem na economia local.

Como forma de sensibilizar a população, já foram publicados livros de receitas sazonais e guias alimentares locais e criada uma iniciativa que pede às pessoas que gastem 10% do seu orçamento em alimentos de origem local.

Keener louva a crescente rede de comerciantes, distribuidores e restaurantes que promovem a comida local. “A especialização não é má”, diz ele. E, após 20 anos de agricultura, reforça: “Estou cada vez mais onde quero estar”.

Foto: Sob licença Creative Commons

 





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