As consequências ambientais dos incêndios em Portugal
Como é sabido, este tem sido um Verão particularmente dramático no que diz respeito a incêndios florestais em Portugal. Apesar de se terem tornado quase num hábito nos períodos mais quentes, é importante lembrar que os impactos destes fogos que consomem hectares e hectares de floresta são muitos e graves – mesmo depois de extintos. “Sim, são muito graves”, explicou ao Green Savers Nuno Sequeira, presidente da Quercus.
Nuno Sequeira enumerou algumas das consequências para o ambiente destas ocorrências. Falamos naturalmente das emissões de CO2 que são libertadas para a atmosfera por via dos fogos, da perda de biodiversidade das zonas afectadas, tanto a nível de espécies vegetais como animais, e da degradação do habitat das espécies sobreviventes – consequência grave em especial para os herbívoros, que vêem as suas fontes de alimento seriamente comprometidas.
O presidente da Quercus lembra também a erosão dos solos, que se tornam desprotegidos após um incêndio, e a habitual destruição de espaços agrícolas. Este último é um aspecto que tem um forte impacto na economia local e familiar – falamos muitas vezes no desaparecimento em zona rural de espaços de agricultura familiar essenciais à subsistência das famílias.
O custo económico para o país do combate aos incêndios é também gigante, entre investimentos em transportes terrestres e aéreos. Novamente, nenhuma acção é estanque e também a água salgada usada para apagar os fogos acaba por ter um impacto negativo nos solos, ao salinizá-lo. A utilização de água do mar pode atrasar a normalização do equilíbrio natural da floresta e contaminar os recursos hídricos naturais.
Os danos ambientais e materiais, com a ameaça recorrente a habitações e bens, são também naturalmente preocupantes. Mas a mais lamentável consequência dos incêndios são os danos humanos, com a perda de vidas no combate às chamas.
Onde deflagram os problemas
Nuno Sequeira defende que o cenário que hoje observamos – um país em chamas – é o resultado de “diversos erros que têm vindo a acontecer”. E explica: “O que tem vindo a registar-se nas últimas décadas é um padrão de fogo descontrolado”. Trata-se de incêndios que lavram durante períodos e áreas demasiado longos – em grande parte devido ao despovoamento que se regista no interior do país, defende.
Acontece que há cada vez menos pessoas a fazer uma regulação dos solos, a lançar alertas e, no fundo, a controlar e vigilar as florestas. Isso dá espaço a todo o tipo de más práticas sobre o espaço natural que, aliadas à falta de acções de prevenção e limpeza no terreno, são catastróficas.
Para além desta tendência, Nuno Sequeira lamenta ainda o facto de terem vindo a ser instaladas monoculturas muito extensas nas nossas florestas, que levam a que os fogos comecem numa zona e se estendam para outras muito distantes. O eucalipto é um dos melhores exemplos neste panorama, como espécie exótica adoptada em detrimento das autóctones e que arde com muita facilidade.
“No futuro, tudo leva a crer que teremos problemas mais graves”, frisa Nuno Sequeira. O responsável enumera o aquecimento global, os Verões cada vez mais quentes e o novo regime de arborização e rearborização que favorece justamente a plantação de árvores como o eucalipto. “É uma medida muito grave”, afirma, sobre a qual a Quercus se continua a pronunciar contra.
Depois das mortes de bombeiros em serviço registadas recentemente, Nuno Sequeira afirma manter a esperança de que o governo passe a olhar para a floresta de forma diferente, percebendo que a sua gestão traz implicações directas severas para todo o país.
Foto: Incêndios em São Pedro do Sul (2013), sob licença Creative Commons