‘Auto-domesticação’: Humanos podem ter mais em comum com os elefantes do que se pensava



A evolução de animais menos agressivos e mais comunicativos pode ter sido uma forma de selecionar naturalmente os indivíduos mais predispostos a viverem em comunidades complexas, permitindo a partilha de conhecimento e, assim, aumentando as hipóteses de sobrevivência.

Um grupo de investigadores dos Estados Unidos da América, Países Baixos e Espanha acredita que esses traços pró-sociais, por oposição a antissociais, são fruto de um processo de ‘auto-domesticação’, e que pode ser verificado não só nos humanos e  noutros primatas, mas também nos elefantes.

No que toca aos humanos, num artigo publicado na revista ‘PNAS’, os cientistas explicam que a capacidade para comportamentos sociais complexos, para a comunicação versátil e para o uso de ferramentas altamente desenvolvidas são o fruto de um processo evolutivo que em muito se assemelha à domesticação de animais, em que os menos agressivos tendem a ser mais favorecidos.

“A teoria da auto-domesticação é difícil de testar”, reconhece Limor Raviv, do Instituto Max Planck para a Psicolinguística, e primeira autora do artigo, explicando que só numa outra espécie, além dos humanos, foi possível verificar a auto-domesticação: o bonobo ou chimpanzé-pigmeu (Pan paniscus).

No entanto, os investigadores acreditam que a evolução dos elefantes pode também ter sido sujeita a esta seleção natural pró-social.

Isto, porque consideram que estes grandes mamíferos vegetarianos apresentam muitos dos traços relativos à domesticação apresentados pelos humanos e pelos bonobos: reduzidos níveis de agressividade, grande capacidade para a empatia, curiosidade e períodos longos de cuidados prestados aos juvenis.

Os autores acreditam que essas características comprovam que os elefantes têm consciência de si mesmos, uma capacidade restrita a um número limitado de grupo taxonómicos, e são sensíveis às necessidades de outros indivíduos da sua espécie.

A aprendizagem é também indicada como uma evidência de que esses animais têm mais em comum com os humanos, e vice-versa, do que se poderia pensar. Por exemplo, ao passo que em algumas espécies os alimentos que se podem ou não comer é algo que é inato, no caso dos elefantes, como no dos humanos, esse conhecimento é transmitido socialmente.

E a comunicação é um traço igualmente distintivo dos elefantes, com os cientistas a argumentarem que têm um “sistema de comunicação multimodal e sofisticado com um vasto repertório vocal”, que permite emitir vocalizações variadas e precisas para determinada situação. Estudos anteriores revelaram que os elefantes no Quénia usam diferentes chamamentos para alertar os restantes membros do seu grupo, por um lado, para a presença de humanos e, por outro, de abelhas. E os autores do presente trabalho defendem ainda que essa variedade de sons pode mesmo revelar sinais de uma espécie de ‘gramática elefantina’.

Conjugadas todas estas características, os investigadores sugerem que a auto-domesticação nos elefantes se poderá dever ao seu grande tamanho e à sua força, o que faz com que “estejam menos preocupados em fugir [aos predadores] ou em lutar com outros animais pela sua sobrevivência”, afirma Raviv. Por isso, nesse ambiente mais seguro, podem libertar-se de alguma da pressão seletiva que, de outra forma, poderia favorecer animais mais agressivos.

“A nossa hipótese de auto-domesticação nos elefantes tem um potencial incrível para a investigação futura de outras espécies”, diz a cientista, uma vez que pode ajudar a compreender como espécies distintas e separadas por milhares de anos de evolução acabam por desenvolver traços pró-sociais semelhantes.





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