Brasil: 90% do material reciclável é recolhido por catadores que ganham menos de €195/mês
Cerca de 600 mil brasileiros recolhem 90% do material reciclável recuperado, de acordo com dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), entidade que reúne empresas como a Coca-Cola, Unilever ou Gerdau.
Estes trabalhadores, que têm nas suas mãos o sucesso e futuro da reciclagem naquele país, recolhem a reciclagem das ruas das cidades ou das lixeiras do país, de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
“A maior parte do trabalho de reciclagem é feita por eles. Os catadores desempenham um papel de imenso valor estratégico para a indústria, além de prestarem um importante serviço ambiental pelo qual são pouco valorizados”, explicou ao National Geographic Brasil Albino Rodrigues Alvarez, técnico de planeamento e pesquisa do Ipea.
Por “serviços ambientais pouco valorizados”, Albino Alvaraz pretende explica que cada catador leva para casa, por mês, menos de €195 (R$ 600). Ainda assim, estes trabalhadores foram reconhecidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) como importantes agentes para a execução dos processos de reciclagem.
Segundo o Ipea, só 10% dos catadores pertencem a cooperativas. Seria uma boa notícia que esta percentagem aumentasse, uma vez que o rendimento mensal de um catador de cooperativa poderá situar-se entre €260 (R$ 800) e €420 (R$ 1.300), valor máximo alcançado em São Paulo.
No Brasil, segundo a Cempre, em 2012, a facturação do mercado de triagem e recolha de recicláveis gerou R$ 712,3 milhões (€231 milhões), mas só R$ 56,4 milhões (18,4 milhões) – 8% do total – ficou com as cooperativas. O restante concentrou-se nas mãos dos atacadistas.
Uma forma de distribuir melhor esses recursos está a ser colocada em prática em São Paulo, em que algumas cooperativas, por não terem espaço para verticalizar ou incorporar outras cadeias ao processo, começaram a organizar-se em redes. É o caso da Cooper Glicério, de Bispo. “Além de criar uma capilaridade territorial na recolha selectiva, [isso] permite partilhar mais eficiente a tecnologia operacional, como prensas e esteiras de triagem, e da tecnologia social, como a organização do modelo de uma cooperativa melhor estruturada, que se torna um polo difusor”, explicou Mário Aquino, professor de administração e orientador de projectos da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo.
Apesar de é difícil que uma cidade recicle 100% do seu lixo, este é o objectivo para 2020 da cidade de São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos. A meta não parece inalcançável, já que, no momento, cerca de 83% dos resíduos sólidos são reaproveitados. Mas, segundo Kevin Drew, coordenador do programa de ambiente da cidade norte-americana, o Brasil tem uma grande vantagem para o conseguir rapidamente: os catadores.
“Se a experiência deles for aproveitada e mais bem remunerada pelo importantíssimo serviço ambiental que prestam, cidades como São Paulo podem reciclar 100% da fracção seca do lixo até antes de nós, [São Francisco”, explicou o responsável.
Foto: Blog do Mílton Jung / Creative Commons