Carlos Evaristo, Limpar Portugal: “Low profile? A comunicação social e a sociedade civil têm andado muito preocupadas em resolver a crise”



O Limpar Portugal está de volta a 24 de Março, mas desta vez sem grande mediatismo. O porta-voz da AMO (Associação Mãos à Obra) Portugal, Carlos Evaristo, explicou ao Green Savers o porquê do low profile deste ano e admitiu que a organização ficaria “bastante contente” em atingir os 100 mil participantes da edição de 2010.

Carlos Evaristo mostrou-se desiludido com a forma como a sociedade civil e comunicação social estão a ignorar o Limpar Portugal, mas acredita que os portugueses estão mesmo a mudar a forma como olham para a sustentabilidade e a educação ambiental.

Leia a entrevista e saiba como participar no Limpar Portugal 2012.

Como está a decorrer a organização do Limpar Portugal 2012?

A nível de coordenação está tudo a correr bem, no entanto sentimos que existe um certo adormecimento na sociedade portuguesa, que a distrai das questões ambientais.

Quais as principais dificuldades encontradas para levar os vossos objectivos avante?

Este ano desejávamos ter passado a organização para os municípios, para tal enviamos através da ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses) o repto para esta acção pudesse ser orientada pelos responsáveis ambientais e de salubridade dos municípios.

Outra condicionante é a situação económica que o país está a passar o que leva a uma retracção dos apoios público e privados, dificultando assim a angariação de auxílios necessários para a sensibilização da população em geral, assim como a recolha materiais, serviços e meios que ajudem na limpeza das zonas onde existem depósitos ilegais de lixo.

Que novidades estão a preparar para esta edição?

Este ano [queremos reforçar] a componente da educação ambiental, para tal, em parceria com a ABAE (Associação Bandeira Azul da Europa) apresentámos o Limpar Portugal 2012 no Seminário da Eco-Escolas, que decorreu nos dias 3, 4 e 5 de Fevereiro, em Évora.

Desejaríamos uma maior participação dos jovens, para que estes possam dar valor quer à natureza que nos envolve quer ao trabalho que dá ao limpar resíduos indevidamente depositados.

Em termos de preparação para o Dia L, quais as grandes diferenças entre a edição deste ano e a de 2010, que reuniu 100 mil pessoas?

Não existem diferenças na preparação do Dia L em relação a 2010, o êxito é algo de se deve replicar e tentar melhorar sempre que possível.

Quantas pessoas esperam reunir no dia 24 de Março? E quantas já se inscreveram?

Para lhe dizer a verdade, ficaríamos bastante contentes em atingir as 100 mil pessoas.

Temos sentido alguma dificuldade em fazer passar a palavra. Tanto a comunicação social como a sociedade civil têm andado demasiadamente preocupadas em tentar resolver a crise, levando-as a focarem-se nos problemas em vez de procurar soluções. Temos que ser mais positivos, mais arrojados e fazer coisas extraordinárias para obtermos resultados extraordinários: E o Limpar Portugal é uma oportunidade de fazer a diferença.

Dois anos depois da primeira edição do Limpar Portugal, que balanço fazem desse dia?

Foi o dia que marcou muitos portugueses: Mesmo aqueles que não participaram da limpeza lembram-se do DIA L. Não nos lembramos da comunicação social dar destaque a uma ação tão positiva em todos os níveis, quer na sociedade, quer a nível ambiental.

Relembro que o Limpar Portugal 2010 foi mencionado no discurso presidencial dia de Portugal de Camões e Comunidades Portuguesas, como “notável campanha Limpar Portugal”, igualmente destacado nos Roteiros V com imagem de página inteira apenas igualado pela receção presidencial a Barack Obama.

Fomos igualmente distinguidos com o galardão Green Project Awards 2010, como o melhor projecto ambiental.

Têm alguma estimativa de como estão hoje as zonas limpas em 2010?

Temos a consciência que 30% dos locais limpos mantêm-se limpos, infelizmente os restantes voltaram a ser locais de deposição ilegal de resíduos.

O que tem feito a AMO Portugal, para além de organizar esta edição do Limpar Portugal?

A AMO Portugal tem vindo a desenvolver acções em prol da proteção da natureza, no ano passado desejámos implementar um projecto de vigilância contra incêndios florestais, que se gorou com a extinção dos governos civis, órgão máximo da Proteção Civil a nível nos distritos.

Não desistimos desse projecto e efetuámos, em parceria com o Parque Nacional Peneda-Gerês e a GNR-SEPNA, uma acção piloto que decorreu do dia 19 de Junho a 30 de Setembro e  foi muito positiva.

Perto de 200 voluntários vigiaram o PNPG durante esse período, tendo apenas ardido 20 hectares, muito menos que no transacto mês de Fevereiro.

Em parceria com o movimento cívico Terra Queimada desenvolvemos acções de sensibilização para reflorestação por sementeira, usando o método Nango Dango, inventado por Masanobu Fukuoka, japonês já falecido, conhecido também como pai da Permacultura ou Agricultura Selvagem.

Que apoios têm tido, governamentais ou não-governamentais, para o Limpar Portugal 2012?

Os apoios são transversais a toda a sociedade e, como sabem, o projecto Limpar Portugal não envolve qualquer valor pecuniário na organização. Os apoios governamentais cingem-se apenas à publicação atempadamente de uma portaria que isenta de guias de transporte e taxa de deposição de resíduos recolhidos pelo Limpar Portugal.

O apoio presidencial, com a atribuição do Alto Patrocínio da Presidência da Republica, representa apenas uma credibilização da nossa acção. Mas até mesmo essa atribuição não teve o mesmo destaque que na edição anterior. Todos os outros apoios são a nível local e aí contamos com apoios das câmaras, juntas de freguesia, instituições públicas e privadas.

Não posso esquecer o contributo abnegado das coordenações locais que fazem das tripas coração para organizarem, sensibilizarem e motivarem os cidadãos esta questão do lixo indevidamente depositado na natureza.

A iniciativa estará englobada no Let’s Do It – World Clean Up. Globalmente, quantas pessoas irão participar nesta mega acção, em quantos países?

Portugal e a Eslovénia serão, a 24 de Março, os primeiros países a entrarem em ação na iniciativa World Cleanup 2012, liderada pelos estónios da organização Let’s Do It ,que decorrerá de 24 de Março a 25 de Setembro de 2012.

O [objectivo] é envolver mais de 300 milhões de pessoas de 100 países e recolher mais de 100 milhões de toneladas [de lixo] em acções de um único dia. Neste momento estão 81 países inscritos nos quatro cantos deste tão maltratado planeta, que com esta iniciativa ficará por certo saudável.

A edição de 2010 foi também um sucesso pela grande cobertura mediática disponibilizada por televisões, rádios e jornais. Este ano, porém, o Limpar Portugal está um pouco mais low profile. É estratégico ou o pico da vossa comunicação ainda está para vir?

Não é estratégico, infelizmente o mediatismo está focado na crise e no desempenho dos nossos governantes, esquecendo as ações positivas levadas a cabo pela sociedade em prol de um “jardim à beira-mar plantado” mais bem cuidado a nível ambiental.

Dois anos depois, acha que os portugueses mudaram a forma como olham para o ambiente e a sustentabilidade?

Felizmente, os portugueses começam a mudar forma como interagem com o ambiente, senão vejamos: a cidade do Porto tem 1.900 pedidos para talhões de 25m² para hortas sociais, iniciativas de plantação de árvores autóctones tem vindo a crescer, a reciclagem tem vindo a crescer, a compostagem dos alimentos verdes e sobrantes de jardins, etc.

Considero que os portugueses estão a mudar, no entanto ainda há muito a fazer. Acabar com a queima de sobrantes agrícolas que tantos incêndios florestais provocam, inverter o estranho fenómeno que a garrafa vazia é mais pesada do que cheia, por isso fica no meio do monte. A crise é apenas a adaptação a uma nova realidade, temos ter uma vida mais auto sustentável e isso tem que começar pelos actos de cada um.

Esquecemo-nos que vivemos num condomínio fechado que nossos actos afectam a vizinhança e que nossas atitudes ecoam na eternidade. Lembrem-se destas: “A terra não pertence ao Homem, é o homem que pertence à Terra” – Carta do índio norte-americano Seattle, líder da tribo Duwamish, para o então presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce.





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