Catarina Albuquerque: “O estigma da menstruação não permite que muitas raparigas de países pobres vão à escola”
Desde que tomou posse em Novembro de 2008 como a primeira Relatora Especial das Nações Unidas para o Direito à Água Potável e Saneamento, Catarina Albuquerque visitou já muitos países e encontrou realidades muito diferentes no que concerne às questões de higiene e saneamento a que as populações têm acesso.
Para a relatora, um dos maiores flagelos que atinge as comunidades desfavorecidas dos países em desenvolvimento são os preconceitos com a intimidade feminina e a falta de condições sanitárias que permitam às mulheres e jovens raparigas ter uma vida normal e não serem condicionadas por funções biológicas naturais, como a menstruação.
“O estigma da menstruação não permite que muitas raparigas de países pobres vão à escola”, afirmou Catarina Albuquerque na passada sexta-feira numa conferência sobre higiene e saneamento promovida pela SCA e WSSCC durante a Volvo Ocean Race. De acordo com a relatora, este problema é “significante em muitos países”, já que por estigma ou falta de condições sanitárias, muitas raparigas não vão à escola quando estão menstruadas, o que acaba por afectar o seu desempenho escolar.
A UNICEF estima que uma em cada dez raparigas africanas falte à escola durante o período menstrual devido à falta de privacidade e condições sanitárias. “Este problema é o último tabu, mais profundo do que falar das fezes ou da urina”, apontou Catarina Albuquerque, contando que, por falta de condições sanitárias, muitas jovens são violadas quando se afastam um pouco das escolas ou aldeias para ir fazer as suas necessidades e cuidar da sua higiene íntima longe de olhares indiscretos.
Para Catarina Albuquerque a melhor forma de combater este preconceito é através de programas de educação e falar abertamente sobre o flagelo. “Antes os diplomatas não falavam sobre este problema”, indicou a relatora ao Green Savers à margem da conferência. “É a falar de uma forma descomplexada e a chamar os bois pelos nomes que se combate o problema. Normalmente somos recebidos com risinhos, mas é a falar das consequências que conseguimos ser levados a sério”.
Segundo a relatora especial das Nações Unidas, a falta de acesso a condições básicas de higiene e a marginalização pelas comunidades onde se inserem é um problema que está associado à descriminalização das mulheres. Como tal, são necessários mais programas de educação e uma maior sensibilidade dos governos para o problema para que possam ser alocadas mais verbas para a resolução da falta de condições sanitárias adequadas.
A Svenska Cellulosa Aktiebolaget (SCA) – que está a apoiar uma equipa feminina na Volvo Ocean Race com o objectivo de abrir portas às mulheres, dando-lhes a possibilidade de competir em igualdade de condições num mundo normalmente entregue aos homens – é uma das empresas que tem programas de educação para as raparigas africanas.
Responsável por marcas como a Tena ou a Colhogar, a SCA conseguiu fazer chegar os seus programas de educação a dois milhões de pessoas em 2014, tendo educado sobre temas como a puberdade e menstruação, desinfecção e lavagem das mãos, problemas de incontinência ou educação parental em países desfavorecidos.
Foto: Nações Unidas