Ceder água de Alqueva a Espanha só com informação completa



A cedência de água da albufeira de Alqueva a Espanha, a acontecer alguma vez, deve ser antecedida de uma informação completa do objetivo dessa água, diz Pedro Horta, da associação Zero.

“Essa água seria para quê? Para regadio mas para que fins? Para estufas e frutas de exportação?”, questionou o responsável em declarações à agência lusa, salientando que dessas respostas deveria depender a decisão de Portugal.

O ambientalista explicou que, caso se trate de uma crise de abastecimento alimentar, um eventual pedido de água deve ser tratado de uma forma diferente de uma falta de água para as estufas.

“Se o pedido é para abastecer uma indústria que assumiu um risco quando se instalou, tem de ser contemplado de outra forma”, defendeu.

A 11 de outubro passado o parlamento da Andaluzia debateu uma proposta (não de lei) apresentada pelo Partido Popular sobre a cooperação com Portugal, contemplando a cedência de água de Alqueva para a região hidrográfica Tinto-Odiel-Piedras e Chanza.

A deputada Berta Centeno García justificou a iniciativa afirmando que se trata de uma questão da qual depende a sobrevivência a curto prazo da economia da província de Huelva, a braços com um problema grave de seca.

A deputada disse que a proposta já foi feita pelo governo de Andaluzia ao Governo de Espanha, e lembrou que há uma Convenção de Albufeira que rege a partilha de água entre os dois países, que “evidentemente” é preciso rever para que se cubram as necessidades de Andaluzia. Mas até lá é preciso pensar em Alqueva como uma solução excecional e de curto prazo, disse.

Ouvido pela Lusa, Pedro Horta lembrou que já há no baixo Guadiana uma captação ilegal de água, Bocachanza, da parte de Espanha, preparando-se Portugal para fazer mais uma captação, na zona do Pomarão.

“Portanto há aqui uma disputa pela água”, disse, salientado que embora o Alqueva seja um sistema de grande capacidade as concessões estão praticamente no limite.

O problema, segundo o responsável, é que Espanha não fez, como Portugal parece não estar a fazer, uma contenção da procura de água. “Constrói-se mais regadios e depois procura-se milagres, disse, avisando que são muito sensíveis as questões da água.

Sara Correia, igualmente da associação Zero, lembrou também a captação do baixo Guardiana, que Espanha quer aumentar mas que é ilegal, porque devia ter terminado após a construção da barragem de Bocachanza. “O que acontece é que está ilegal e ainda vai ser aumentada”, disse.

Portugal prepara-se para uma nova captação, no Pomarão, “que também creio que não foi negociada”, disse Sara Correia, considerando que essas mudanças exigem a revisão da Convenção.

O Ministério do Ambiente, numa declaração à Lusa na qual disse que não houve qualquer pedido de Espanha de água de Alqueva, disse também que Portugal tem em curso com Espanha uma negociação para a definição do regime de caudais da secção de Pomarão do rio Guadiana.

Sara Correia insistiu que é preciso perceber os impactos das captações nos caudais ecológicos, alertado que os caudais ecológicos não podem ser medidos em termos trimestrais ou semestrais, o que permite a Espanha reter água durante por exemplo dois meses e meio para depois a libertar toda de uma vês, o que é prejudicial.

“Temos de definir com Espanha caudais mínimos diários. É isso que tem de ser negociado. Até pode ser o mesmo caudal, não é preciso negociar mais água”, disse, apontando um problema de fundo nesta matéria: “os modelos de exploração agrícola não são compatíveis com a água que temos”.





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