Cientistas descobrem finalmente porque é que as viagens espaciais enfraquecem a nossa imunidade
Sabemos que o espaço nos deixa doentes: os astronautas apanham regularmente erupções cutâneas ou vírus quando estão a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS). Mas os cientistas sabem agora porquê.
Um novo estudo mostra que as viagens espaciais alteram literalmente a forma como os genes dos glóbulos brancos funcionam, impedindo-os de desempenhar a sua função habitual de reconhecer e combater as infeções.
“Estes resultados são considerações importantes sobre os riscos para a saúde durante os voos espaciais e a exploração espacial”, disse à “BBC Science Focus” Myles Harris, professor associado da University College London (UCL) que não esteve envolvido no estudo.
O estudo, publicado na revista Frontiers In Immunology, descreve como a rápida diminuição da força dos nossos sistemas imunitários no espaço é provavelmente causada por um fenómeno conhecido como “deslocamento de fluidos”.
A deslocação de fluidos implica que o plasma sanguíneo, que transporta os glóbulos brancos pelo corpo, se desloque da parte inferior do corpo para a parte superior devido à microgravidade (o estado de baixa gravidade que faz com que os astronautas pareçam não ter peso). Isto reduz o volume do plasma e dos importantes glóbulos brancos.
Mas nem tudo são más notícias – desde que se regresse à Terra. No prazo de um ano após o regresso de um período de seis meses na ISS, o volume de glóbulos brancos dos astronautas volta ao normal. É por esta razão que os astronautas são mais vulneráveis a infeções no primeiro mês de regresso à Terra.
É provável que o tempo de recuperação individual dependa de fatores pessoais, mas esta investigação ainda não foi realizada.
A equipa de investigação, da Universidade de Ottawa, no Canadá, estudou os genes dos glóbulos brancos de 14 astronautas que tinham passado 4,5-6,5 meses na ISS.
Antes, durante e depois do voo, os astronautas tiveram de colher 4 mililitros de sangue num total de 10 vezes.
“Uma imunidade mais fraca aumenta o risco de doenças infeciosas, limitando a capacidade dos astronautas para desempenharem as suas exigentes missões no espaço”, afirmou Guy Trudel, professor de medicina celular e molecular na Universidade de Otava e um dos autores do estudo.
“Se uma infeção ou uma doença relacionada com o sistema imunitário evoluísse para um estado grave que exigisse cuidados médicos, os astronautas no espaço teriam um acesso limitado a cuidados, medicação ou evacuação”.
O próximo passo na investigação dos cientistas será conceber formas de prevenir a imunossupressão durante voos espaciais de longa duração.
Segundo Harris, isto “daria também um contributo valioso para a conceção de uma medicina personalizada na Terra”.