Cientistas identificam genes que permitiram a domesticação do gato selvagem



Coloque um gato doméstico ao lado do seu ancestral directo, o gato selvagem do Próximo Oriente, e demorará apenas um minuto a identificar as diferenças. Os dois animais têm um tamanho e forma aproximada e assemelham-se, obviamente, a gatos. Mas o gato selvagem é feroz, ao passo que o gato doméstico – graças a quase 10.000 anos de domesticação – é manso e adaptável o suficiente para se ter tornado um dos animais domésticos mais populares.

Agora, os cientistas identificaram as alterações genéticas que permitiram esta domesticação. A descoberta, baseada numa sequenciação de alta-qualidade do genoma do gato, pode abrir portas para se perceber como outras criaturas, nomeadamente os humanos, se tornaram mais dóceis ao longo do tempo.

Os gatos entraram na sociedade humana há cerca de 9.500 anos, não muito depois de os humanos iniciarem as primeiras práticas agrícolas no Médio Oriente. Atraídos pelos roedores que invadiam os celeiros, os gatos selvagens migraram dos desertos para as aldeias. Ao conviverem com os humanos, suspeitam os cientistas, os gatos iniciaram um processo de auto-domesticação, onde os mais amistosos beneficiavam das sobras de comida humana e protecção.

Nos milhares de anos seguintes, os gatos diminuíram progressivamente de tamanho, adquiriam uma panóplia de novas cores e padrões de pêlo e perderam os hábitos anti-sociais do passado. Os restantes animais domésticos, como vacas, porcos e cães, terão passado por transformações semelhantes, embora os cientistas ainda saibam muito pouco sobre os genes envolvidos na evolução destes animais.

Mas sobre a evolução do gato já se sabe muito. E a equipa de cientistas liderada por Michael Montague, investigador de pós-doutoramento na Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, identificou alguns dos genes envolvidos na mudança. A investigação começou em 2007 e as conclusões finais foram agora publicadas na Proceedings of the National Academy of Sciences e identificam 281 genes que revelam sinais de rápidas ou numerosas alterações genéticas, uma marca de selecção recente nos gatos domésticos.

Alguns desde 281 genes estão envolvidos com a audição e visão, enquanto outros estão relacionados com processos metabólicos e uma adaptação para um estilo de vida menos carnívoro. Mas uma das conclusões mais intrigantes surgiu quando a equipa sequenciou o genoma de 22 gatos domésticos e os compraram com os genomas de dois tipos de gatos selvagens.

Os investigadores descobriram pelo menos 13 genes que se alteraram à medida que os gatos evoluíram de ferozes para dóceis. Alguns destes genes estão ligados com a cognição e comportamento, incluindo as respostas ao medo e a habilidade para aprenderem novos comportamentos em troca de recompensas.

“As descobertas coincidem com o que sabemos sobre a domesticação dos gatos”, afirma Michael Montague. “A certo momento tiveram de se tornar menos receosos em relação a pessoas e locais novos e os incentivos em forma de comida terão ajudado a esta adaptação”, explica o investigador, cita o News From Science.

Foto: reineckefoto / Creative Commons





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