Cientistas mais perto de desvendar doença que está a matar coalas na Austrália
Um retrovírus semelhante à SIDA tem afetado as populações de coalas (Phascolarctos cinereus) na Austrália, e já foi associado a doenças que causam cegueira e infertilidade. Os cientistas ainda não compreendem totalmente o funcionamento do patógeno, conhecido como KoRV, mas avanços recentes colocam-nos mais perto de uma solução.
Um grupo de investigadores australianos sabe agora que o retrovírus tem maior incidência nas populações de coalas nos estados de New South Wales e de Queensland, na região oriental do país, uma descoberta feita através da análise de mais de 190 amostras de ADN recolhidas das fezes desses animais.
“Descobrir padrões cruciais como este ajuda-nos a compreender como é que a doença está a evoluir, como se está a disseminar e como podemos conter os danos através de mediação antiviral ou de programas de reprodução de coalas”, afirma Michaela Blyton, primeira autora artigo publicado na ‘PNAS’.
Os coalas, marsupiais endémicos da Austrália, têm vindo a sofrer grandes perdas populacionais nos últimos 10 anos, devido, especialmente, à destruição das suas florestas, a eventos extremos provocados pelas alterações climáticas, como secas severas e incêndios de grandes dimensões, e a doenças.
Em investigações anteriores, Blyton já tinha conseguido associar o KoRV a doenças como a clamídia, a conjuntivite e a cistite (uma inflamação da bexiga), o que sugeria que o retrovírus enfraquece o sistema imunitário destes animais. O novo trabalho conclui que o patógeno parece estar limitado a essas duas populações, e os cientistas acreditam que não existam subvariantes.
“O nosso trabalho anterior mostrou uma ligação clara entre o KoRV e a clamídia nos coalas”, explica a cientista, que acrescenta que devem ser suspensos programas de recolocação de coalas de uma população para outra para que não haja a proliferação do vírus em grupos saudáveis.
Embora uma solução definitiva para o problema ainda esteja longe, os cientistas acreditam que a delimitação geográfica permitirá afinar as investigações seguintes, e que eventualmente será criado um tratamento antiviral que ajude a salvar as populações de coalas nos estados onde a incidência da do KoRV é maior.
“Poderemos vir a ter algum tipo de tratamento antiviral, ou, pelo menos, melhorias nos programas de reprodução de coalas, mas por agora estas são excelentes notícias para uma espécie que enfrenta ameaças em várias frentes”, destaca Blyton.
De acordo com a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o coala está atualmente classificado como ‘vulnerável’, sendo que as estimativas apontam para que entre os últimos 18 a 24 anos a população total de coalas tenha diminuído cerca de 28%.
Os especialistas alertam que a intensificação dos efeitos das alterações climáticas deverá conduzir a perdas ainda maiores nas próximas décadas.
Em fevereiro do ano passado, o governo australiano declarou o coala como uma espécie em risco, tendo em abril publicado o primeiro Plano Nacional para a Recuperação do Coala e anunciado um investimento de mais de 79 milhões de dólares para a conservação da espécie.
As organizações ambientalistas reconheceram a importância da decisão, mas alertaram que o facto de ser listadas como espécie em risco era, também, um sinal de que o declínio populacional continua a grassar. A WWF, por exemplo, avisou que a diminui da população de coalas na Austrália não será travada enquanto não foram implementadas medidas que combatam a desflorestação e os impactos das alterações climáticas no país.