Cientistas portugueses alertam para os perigos da exploração mineira em zonas abissais



Apesar de ser uma das regiões mais remotas do planeta, a presença de vastos depósitos de nódulos polimetálicos, ricos em metais de grande interesse comercial, faz da zona de fractura de Clarion-Clipperton (CCZ), no Pacífico Oriental, um dos mais recentes e apetecíveis alvos da indústria de mineração.

De forma a prever potenciais impactos ambientais decorrentes da actividade mineira, uma equipa internacional de cientistas, que contou com a presença da bióloga da Universidade de Aveiro (UA) Ana Hilário, e de Pedro Ribeiro, da Universidade dos Açores, esteve na CCZ e fez a primeira caracterização da biodiversidade local. Em artigo publicado na revista Scientific Reports, os cientistas alertam para a necessidade de uma cuidadosa planificação de estratégias de conservação da abundante, diversificada e extremamente vulnerável biodiversidade que descobriram nessa área do Pacífico.

A região da CCZ, ao largo da América central, tem sido alvo de interesse por parte da indústria mineira devido à presença, a profundidades abissais, a mais de 4.000 metros de profundidade, de vastos depósitos de nódulos polimetálicos, ricos em metais de elevado interesse comercial como cobre, níquel, cobalto, manganês e elementos de terras-raras.

No entanto, por ser uma das regiões mais remotas do Planeta, muito pouco se sabe acerca do funcionamento deste ecossistema e da sua biodiversidade. No contexto de futuros licenciamentos para a exploração mineira na CCZ, atribuídos pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), esta equipa de cientistas investigou a fauna abissal presente na região de modo a prever potenciais impactos decorrentes da mineração.

Expedição à CCZ 

Segundo um comunicado da Universidade de Aveiro, entre 10 de Março e 30 de Abril de 2015, a bordo do novo navio de investigação alemão Sonne, a missão científica EcoResponse à CCZ, liderada pelo Instituto Senckenberg e contando com a participação de cerca de 40 investigadores de 11 nacionalidades, entre os quais Ana Hilário do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA, percorreu quatro áreas já licenciadas para exploração mineral e uma área protegida estabelecida pela International Seabed Authority (ISA).

O artigo agora publicado por cientistas da Alemanha (Senckenberg am Meer), Bélgica (Universidade de Ghent), França (IFREMER) e Portugal (MARE, IMAR-Açores e UA) baseia-se na análise de transectos de vídeo do fundo marinho efetuados pela primeira vez nesta região com um Veículo de Operação Remota (ROV Kiel 6000, GEOMAR) e mostra que a fauna associada a nódulos polimetálicos é mais abundante e diversificada do que aquela que se encontra em áreas desprovidas ou com baixa densidade de nódulos.

Este padrão foi observado consistentemente nas quatro áreas licenciadas pela ISA para prospeção que foram visitadas durante a campanha. O artigo demonstra que os depósitos de nódulos polimetálicos existentes nessa região constituem hotspots de abundância e diversidade de uma fauna abissal extremamente vulnerável.

Durante este estudo foram também adquiridos pela primeira vez dados ecológicos de uma das nove áreas protegidas das actividades de prospecção mineira pela ISA. O artigo reporta ainda os fortes impactos e a baixa capacidade de recuperação por parte da comunidade faunística em marcas de arrasto e simulações experimentais da actividade mineira realizadas até há 37 anos, sugerindo que os impactos da mineração nas zonas abissais poderão ser altamente duradouros, ou mesmo permanentes.

Com base nestas observações os autores argumentam que as zonas de preservação, impostas pela ISA, dentro das áreas licenciadas para exploração deverão estar localizadas em áreas com elevada densidade de nódulos. Os resultados deste estudo, apontam os cientistas, são da mais elevada importância e devem ser tidos em conta por responsáveis políticos e representantes da indústria no processo actualmente em curso para o desenvolvimento das estratégias de mineração e conservação no mar profundo.

A campanha foi coordenada pelo Instituto Senckenberg am Meer e é parte do programa JPI Oceans – Ecological Aspects of Deep-Sea Mining, coordenado pelo GEOMAR Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel.

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