Cientistas reconstroem crânio de ‘crocodilo ancestral’ com mais de 300 milhões de anos



Há quase um século que os paleontólogos têm tentado perceber a criatura cujos fragmentos craniais foram encontrados na Escócia. No entanto, devido ao mau estado de conservação desses vestígios, tinha sido impossível reconstruir o crânio e obter uma imagem mais nítida de um predador anfíbio que terá vivido há mais de 300 milhões de anos (período Carbonífero) na Escócia e no Canadá.

Contudo, o avanço tecnológico permitiu superar essa barreira. Com recurso a tomografia computorizada e tecnologia de imagens 3D, cientistas de centros de investigação no Reino Unido conseguiram, por fim, dar uma ‘cara’ a esse réptil quadrúpede, de nome Crassigyrinus scoticus, que se pensa ser um parente próximo dos primeiros animais que, deixando para trás o mar, colonizaram a terra, andando sobre ela.

Laura Porro, da University College London e primeira autora do artigo publicado hoje na revista ‘Journal of Vertebrate Paleontology’, explica que o crânio do C. scoticus assemelha-se, em forma, ao do crocodilo moderno, “com grandes dentes e poderosas maxilas que lhe permitiam comer praticamente tudo o que se atravessasse no seu caminho”.

Tomografia computorizada dos fragmentos craniais de Crassigyrinus scoticus.
Foto: Porro et al. (Artigo)

Apesar da proximidade aos primeiros animais que andaram sobre a terra, o C. scoticus, dizem os cientistas, era sobretudo um animal aquático. Contudo, não se sabe se terá sido porque os seus antecessores, depois de irem para terra, voltaram para o meio aquático, ou se nunca fizeram realmente essa transição.

Ao reunirem os fragmentos craniais desse predador reptiliano, os investigadores ficaram com um crânio achatado, tal como o do crocodilo, e dizem que os outros ossos encontrados suportam essa forma, uma vez que os vestígios paleontológicos sugerem que se tratava de um animal com um corpo também achatado e com membros curtos.

Reconstrução digital do crânio do Crassigyrinus scoticus, através de tomografia computorizada e de tecnologia de imagem 3D.
Foto: Porro et al. ( Artigo)

Laura Porro diz que o C. scoticus, cujo nome do género (Crassigyrinus) literalmente significa ‘girino grosso’, não terá tido uma aparência especial aterradora, mas terá sido um predador nato.

“Em vida, o Crassigyrinus terá tido entre dois e três metros de comprimento, o que era bastante grande para a altura”, explica a investigadora, acrescentando que provavelmente terá tido um comportamento semelhante aos crocodilos que hoje conhecemos, caçando por emboscada, aguardando, muito quieto, sob a superfície da água até que uma presa incauta se aproximasse, altura em que abriria a sua grande boca para apanhá-la.

Além disso, este animal terá tido olhos grandes para ver nas águas turvas dos pântanos e órgãos sensoriais, localizados ao longo do dorso, para detetar vibrações produzidas por outras criaturas.

Agora, os cientistas, com um crânio formado em mãos, procurarão compreender que outros órgãos sensoriais teria o C. scoticus que lhe permitissem caçar, percebendo, assim, como vivia este predador anfíbio de um passado distante, revelando os seus mistérios através da tecnologia mais avançada.





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