Como os ateliês de arquitectura procuram nas cidades de segunda linha uma resposta para a crise
Há algumas semanas, o American Institute of Architects anunciou os edifícios que venceram o seu prémio anual. Sem surpresas, alguns dos mais elitistas ateliês de arquitectura de Nova Iorque, Boston ou São Francisco entraram na lista de vencedores, mas um dos edifícios mais falados da lista pertencia a uma empresa pouco conhecida o estado do Kentucky, a De Leon and Primmer Architecture Workshop.
Segundo o CityLab, o prémio tem a sua razão de ser: a De Leon and Primmer há muito que produz grandes projectos arquitectónicos na cidade de Louisville, onde tem a sua sede, e noutras pequenas cidades do estado do Kentucky. A sua especialidade é reinterpretar a antiga arquitectura do estado norte-americano numa linguagem de modernismo.
Um facto curioso: nem Roberto De Leon nem Ross Primmer, os dois sócios, são de Louisville. Formados em Harvard, os empresários fundaram a sua firma no estado do Kentucky por razões de negócio.
“Foi Ross quem se interessou por uma cidade de segunda linha”, explicou De Leon, que cresceu em São Francisco, ao Architectural Record. Louisville foi escolhida porque se tratava de uma cidade em crescimento e em transição de uma economia industrial para outra de serviços.
A capital norte-americana dos ateliês de arquitectura é Nova Iorque. Boston e Chicago são outras das cidades com muito trabalho – mas também competição entre arquitectos e talento por metro quadrado. “Isso contribui para uma grande dose de stress e trabalho-extra. Muitos arquitectos, sobretudo mulheres, estão a deixar a área, frustrados”, explica o CityLab.
O site alega que um arquitecto ambicioso pode criar um nicho para si próprio numa cidade secundária, onde o mercado é dominado por ateliês com largas décadas de história e que jogam pelo seguro. Em Louisville podemos apresentarmo-nos às pessoas certas numa festa ou café, explica o CityLab. De Leon corrobora. “Há muitas oportunidades aqui, em termos de acesos directo a pessoas que, na verdade, são decisores. É muito fácil conhecer o mayor, por exemplo”, explica o arquitecto.
Tal como o De Leon and Primmer, outros ateliês ambiciosos estão a abrir actividade em Kansas City, no Missouri, Ohama, Nashville, Denver, Oklahoma ou Albuquerque.
Em Portugal, tal como noutros países, a crise há muito que chegou ao sector da arquitectura, que desde 2012 se vê “obrigado” a dispensar profissionais ou enviá-los para o estrangeiro. Apesar do nosso talento, reconhecido, para aquela que é considerada a quarta arte.
Com uma dimensão completamente diferente da norte-americana, a arquitectura portuguesa dificilmente verá as cidades secundárias do país uma resposta à falta de trabalho e competição das grandes cidades – ou será que esta é uma boa alternativa para desenvolver projectos ambiciosos e alternativos?