Construção de barragem na Etiópia vai provocar “campo de batalha” no vizinho Quénia
A barragem Gibe III, prevista para o Lago Turkana, na fronteira entre a Etiópia e o Quénia, vai provocar uma “campo de batalha interminável e uma devastação cultural” no lado queniano, de acordo com o observatório International Rivers, citado pelo Guardian.
Segundo a entidade, o lago Turkana, o maior no mundo numa zona desértica, deverá ser fortemente afectado pela construção da barragem. Nos últimos 30 anos, milhares de pescadores, agricultores mas também professores e outros profissionais da região têm-se queixado da redução do caudal do Turkana, devido às temperaturas mais elevadas e mudanças no padrão climatérico.
Segundo alguns investigadores, a construção da barragem deverá reduzir a corrente do Turkana em 70%, o que matará ecossistemas e reduzir os níveis de água do lago. Estas consequências trarão outras e podem ser a diferença entre viver modestamente, para milhares de pessoas, e passar fome.
“Se a barragem for construída, o lago irá secar e isso levará a uma desertificação e falta de recursos: não haverá peixe, agricultura e a humidade será baixa, sem chuva. Se isso acontecer, a comunidade morrerá”, explicou Sylvester Ekariman, presidente do conselho de sábios da aldeia pastoral de Kakalel.
Actualmente, o lago ajuda a evitar os conflitos entre as comunidades da Etiópia e Quánia e, mais especificamente, entre os grupos étnicos Turkanas e Rendille, que vivem nos lados opostos do lago. Se este secar e se transformar em dois, os conflitos ocorrerão. “Este lugar transformar-se-á num campo de batalha incontrolável e interminável”, explicou Joseph Atach, assistente-chefe da aldeia de Kanamkuny.
A barragem Gibe III será uma das maiores de África, deverá estar concluída dentro de três anos e custará €1,5 mil milhões (R$ 4,7 mil milhões).
Foto: Peter Etelej / Creative Commons