Filipe Garcia, IMF: “Contratos de futuros sobre água ainda não têm atratividade para os investidores”



Filipe Garcia, presidente e economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros, explica à Green Savers as principais razões porque a água dificilmente constituirá uma referência global nos mercados financeiros.

A água começou a ser negociada como recurso (commodity) em contratos futuros na bolsa norte-americana. Considera que este novo recurso financeiro pode atrair a atenção dos investidores, à semelhança do que acontece com o ouro ou o petróleo?

A maioria dos investidores gostam de estar em mercados líquidos e com alguma maturidade. Estes contratos de futuros são ainda pouco líquidos e não têm um histórico de transações que dê algum conforto aos investidores. Muitos dos agentes presentes nos mercados não estão tão preocupados em qual é o ativo subjacente – pode ser soja, cobre, sumo de laranja, açúcar ou carne de porco – mas preocupam-se muito com a liquidez, possibilidades de manipulação de preço e outros fatores. Os contratos de futuros sobre água ainda não têm essa atratividade para os investidores. Por outro lado, creio que estamos a falar de um ativo subjacente muito específico, que é a disponibilidade de água na Califórnia. Não obstante a importância da água para esse Estado, é muito improvável que venha a constituir uma referência global como acontece, por exemplo, no caso do petróleo.

Como é que se pode investir neste recurso natural?

Há várias formas de estar exposto à agua como investimento, sendo a mais recorrente o investimento em ações ou obrigações de empresas de exploração e distribuição de água canalizada. Para além do investimento em ações individualmente, há alguns ETF’s que permitem a exposição ao setor.

Com as perspetivas de retoma económica, os preços das commodities têm vindo a recuperar?

De uma forma geral, as commodities estiveram num ciclo de baixa até há alguns meses, mas com as perspetivas de retoma económica – sobretudo na Ásia – com estímulos monetários em vigor e interesse investidor, os preços têm vindo a recuperar, com várias commodities como a soja ou o cobre em máximos de vários anos.

O que um investidor procura quando investe na água, laranja, café ou trigo?

Ganhar dinheiro. Há uma perspetiva de que a erosão monetária e a exaustão dos recursos do planeta levarão inexoravelmente a uma subida de preços, mas essa é uma forma muito simplista de estar no mercado. Cada commodity tem a sua história. Mas vale a pena notar que nos mercados de futuros há sobretudo dois tipos de participantes. Uns são os comerciais, que estão ligados à oferta ou à procura da commodity em questão e utilizam o mercado essencialmente para cobrir risco. Os outros, especuladores, pretendem lucrar com as variações de preço, assumindo eles o risco. São fundamentais para garantir liquidez e, dessa forma, melhorar os mecanismos de formação de preço.

Como é que se pode investir nestas commodities acima referidas?

Há várias formas de estar exposto a recursos naturais: ações ou obrigações de empresas relacionadas, ETFs dessas empresas e contratos de futuros. Há ainda fundos de investimentos temáticos que podem fazer uma mescla com esses componentes.

Notícia publicada originalmente na edição impressa da Green Savers – Edição Março.





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