COP15: Dugongos, moluscos e corais entram na Lista Vermelha das espécies ameaçadas
Diversas ameaças como a pesca ilegal e insustentável, a poluição, as alterações climáticas e as doenças estão a ameaçar a sobrevivência de várias espécies marinhas. Na mais recente revisão da sua Lista Vermelha de espécies ameaçadas de extinção, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) incluiu os dugongos, espécies de moluscos do género Haliotis, e corais Dendrogyra cylindrus passaram a fazer parte do grupo de seres vivos considerados em risco.
Numa altura em que decorre em Montreal, no Canadá, a cimeira global sobre a biodiversidade, a COP15, da qual se espera que resulte um acordo que trave e reverta a perda de natureza causada pela ação humana, a UICN revela que, atualmente, a sua Lista Vermelha conta hoje com 150.388 espécies, das quais 42.108 estão ameaçadas de extinção. Das 17.903 espécies de animais e plantas marinhos avaliados pelos especialistas, mais de 1.550 podem vir a desaparecer da natureza.
Sobre os moluscos Haliotis, a organização diz que são bastante procurados em todo o mundo como fonte de alimento, estando ameaçados pela sua exploração insustentável e pela apanha ilegal, pressões que são intensificadas pelos efeitos das alterações climáticas, como o aumento da temperatura da água, pela poluição e por doenças. Do total de 54 espécies, 20 estão atualmente ameaçadas de extinção.
Desde a captura ilegal na África do Sul, às ondas de calor extremo sentidas na Austrália, passando pelas doenças que afetam as populações na Califórnia e no México, estes moluscos estão a perder a sua fonte de alimento, pequenas algas que são destruídas por águas cada vez mais quentes e pela poluição gerada pela atividade humana.
Na Lista Vermelha entraram também as populações de dugongos da África Oriental e da Nova Caledónia, com os estatutos de ‘criticamente em perigo’ e ‘em perigo’, respetivamente. Em termos globais, os dugongos continuam a ser considerados como estando ‘vulneráveis’.
Na Nova Caledónia contam-se hoje menos de 900 dugongos adultos, sendo que esse número é inferior a 250 na África Oriental. A captura acidental e a caça ilegal são os principais motores das perdas populacionais deste mamífero marinho, conhecido também como ‘vaca-marinha’, devido aos seus hábitos alimentares herbívoros e por ‘pastar’ em pradarias subaquáticas.
Além disso, a exploração de combustíveis fósseis, as descargas de produções agrícolas e a atividade das embarcações pesqueiras são também apontadas grandes ameaças.
A par dos dugongos e dos Haliotis, também os corais Dendrogyra cylindrus, que formam grande colunas calcárias, passaram da categoria de ‘vulneráveis’ para ‘criticamente em perigo’. A perda de mais de 80% da sua população desde a década de 1990 foi a principal motivação para a mudança do estatuto de conservação da UICN, devido a doenças e à poluição que têm dizimado as populações destes minúsculos animais marinhos.
Os Dendrogyra cylindrus são apenas uma de 26 espécies de corais do Oceano Atlântico agora listados como estando ‘criticamente em perigo’.
A sobrepesca é também um fator de risco, pois com a diminuição de algumas espécies de peixe, observa-se o aumento exponencial de populações e algas que põem em xeque a sobrevivência desses corais.
Bruno Oberle, diretor-geral da UICN, afirma, em comunicado, que “precisamos urgentemente de responder à ligação entre as crises climática e da biodiversidade”, que causam “alterações profundas nos nossos sistemas económicos” ou podem impedir as populações humanas de beneficiarem dos serviços fundamentais fornecidos pelos ecossistemas marinhos, como a regulação climática, a produção de oxigénio e captura de carbono e como fonte de proteína.
“Esta atualização [da Lista Vermelha] reforça o apelo urgente da UICN para que o Quadro Global para a Biodiversidade pós-2020 seja suficientemente ambicioso para travar a destruição do nosso sistema de suporte de vida e para catalisar a ação e mudança necessárias para proteger a vida neste planeta”, sublinha Jane Smart, diretora do Centro de Ciência e Dados da mesma organização internacional.