COP27: “Estamos a ficar sem tempo” e desigualdades entre países do Norte e Sul impedem a proteção do planeta, acusa PM de Barbados



A Primeira-ministra de Barbados, Mia Amour Mottley, afirmou que “esta é a COP que precisa de ação” e que “o horror e a devastação abateram-se sobre a Terra” nos 12 meses volvidos desde que os líderes mundiais se reuniram na cimeira mundial climática em Glasgow em 2021, a COP26.

Agora, do palco da 27.ª Conferência das Partes (COP27) da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, a chefe do governo de uma das várias pequenas nações insulares que mais fortemente estão a sentir os impactos do aquecimento global, com a subida do nível do mar a submergir as suas regiões costeiras, disse que é preciso perceber, apesar de todos os eventos climáticos extremos a que temos assistido – “cheias apocalípticas” no Paquistão e ondas de calor da Europa à China – “por que razão não estamos a avançar mais” no combate às alterações climáticas.

Mottley acredita que “temos a capacidade coletiva para transformar” e aponta que a COP27 ocorre este ano “no país que construiu as pirâmides”, que “sabemos o que é remover a escravatura da nossa civilização, sabemos o que é encontrar uma vacina em dois anos quando somos atingidos por uma pandemia, sabemos o que é pôr um homem na Lua e agora pusemos um rover em Marte”.

No entanto, lamenta que “a simples vontade política que é necessária, não só para vir aqui fazer promessas, mas para concretizá-las, parece continuar a ser difícil de ser produzida”, e pergunta “quanto mais tem de acontecer” para que os compromissos assumidos no papel possam concretizar-se no terreno.

Mottley diz que os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), um grupo formal de 38 Estados-membros das Nações Unidas das regiões das Caraíbas, do Pacífico, do Atlântico, do Índico e do Mar do Sul da China, e que a própria ONU reconhece como sendo especialmente vulneráveis às alterações climáticas, não têm as mesmas oportunidades dos países mais ricos no que toca ao acesso, por exemplo, a carros elétricos, a baterias ou a painéis fotovoltaicos.

A responsável acusa o ‘Norte Global’ de limitar ativamente esse acesso por parte dos SIDS a tecnologias que os ajudariam a tornar-se mais sustentáveis e a reduzirem ainda mais a sua pegada carbónica, embora seja reconhecido amplamente pela comunidade internacional que os países mais pobres, e que estão na linha da frente das alterações climáticas, são os que menos contribuem para a crise que hoje vivemos.

“O ‘Sul Global’ continua à mercê do ‘Norte Global’ nesses aspetos”, critica Mottley, apontando que os países mais desenvolvidos e as instituições financeiras multilaterais, como o Banco Mundial, devem ajudar as nações mais pobres, através de financiamento climático, a trilharem o caminho em direção à neutralidade carbónica.

E lança que o mundo de hoje continua a manter traços imperialistas que mantêm os mais pobres subjugados aos mais ricos, e que os países do hemisfério norte conseguem empréstimos com taxas de juro de entre 1% a 4%, enquanto para os do hemisfério sul essa taxa salta para os 14%. “E depois perguntamo-nos por que é que as parcerias para uma transição energética justa não funcionam.”

Mottley advoga a criação de um fundo que ajude a compensar os países mais vulneráveis por danos e perdas causadas pelas alterações climáticas, que será financiado pelos Estados, mas também pelo setor privado.

“Estamos a ficar sem tempo”, avisa a Primeira-ministra de Barbados, mas “temos o poder de escolher”, “o poder para agir ou continuar passivos e fazer nada”.





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