COP27: Presidente ugandês acusa Europa de “hipocrisia” e “duplos critérios” climáticos



O Presidente ugandês, Yoweri Museveni, acusou hoje a Europa de “duplos critérios descarados” e “hipocrisia” em relação a África sobre a questão das políticas climáticas e energéticas, numa publicação por ocasião da COP27.

O chefe de Estado ugandês, que está no poder desde 1986, criticou a reabertura de centrais elétricas a carvão na Europa face à crise energética causada pela guerra na Ucrânia, enquanto o velho Continente pede às nações africanas que não utilizem combustíveis fósseis.

“Não aceitaremos uma regra para eles e outra para nós”, escreveu Museveni.

“O fracasso da Europa em cumprir as suas metas climáticas não deve ser um problema de África”, acrescentou, criticando a “hipocrisia” da Europa.

Estas declarações seguem os avisos dos líderes africanos durante a 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), a decorrer no Egito, sobre as consequências das mudanças climáticas no seu continente.

Em fevereiro, os especialistas em clima da Organização das Nações Unidas (ONU) estimaram que, em África, dezenas de milhões de pessoas irão enfrentar secas, doenças e deslocações devido ao aquecimento global.

Os países mais ricos, no entanto, não cumpriram as suas promessas de dar 100 mil milhões de dólares (99,71 mil milhões de euros) por ano aos países em desenvolvimento a partir de 2020 para os ajudar a enfrentar as consequências do aquecimento global e a tornar as suas economias verdes, tendo atingido apenas 83 mil milhões de dólares (82,77 mil milhões de euros), de acordo com a ONU.

A pegada de carbono de África é a menor de todos os continentes, sendo responsável por apenas cerca de 3% das emissões globais de CO2.

“Não permitiremos que o progresso de África seja vítima do fracasso da Europa em cumprir as suas próprias metas climáticas”, disse o Presidente ugandês.

O chefe de Estado africano denunciou também a “falência moral” da Europa, que “utiliza os combustíveis fósseis de África para a sua própria produção de energia”, recusando ao mesmo tempo “a utilização destes mesmos combustíveis por parte de África”.

A TotalEnergies e a empresa chinesa Cnooc anunciaram, em fevereiro, um acordo de investimento de 10 mil milhões de dólares (9,97 mil milhões de euros) com o Uganda e a Tanzânia, incluindo a construção de um gasoduto de mais de 1.400 quilómetros ligando os campos do Lago Albert na parte ocidental do Uganda à costa tanzaniana.

O projeto, que inclui a perfuração de poços no Parque Nacional de Murchison, o maior do Uganda, tem sido fortemente contestado por ativistas e organizações ambientais que afirmam que ameaça o frágil ecossistema da região e a subsistência de dezenas de milhares de pessoas.

O Parlamento Europeu aprovou uma resolução não vinculativa contra o projeto em setembro, citando “violações dos direitos humanos” contra os opositores.





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