Crias de numbat reacendem esperança para conservação de um dos marsupiais mais raros da Austrália
Várias crias de numbat (Myrmecobius fasciatus), um mamífero nativo da fauna australiana, foram avistadas recentemente em duas áreas protegidas no sudoeste do estado de Nova Gales do Sul. Os cientistas dizem que é sinal de esperança para a conservação de um dos marsupiais mais raros da Austrália.
No total, foram registadas observações de sete crias: cinco, incluindo quatro gémeos, foram vistas a brincar à porta da sua toca no parque nacional Mallee Cliffs, enquanto outras duas foram observadas no Scotia Wildlife Sanctuary, um santuário de vida selvagem gerido pela organização Australian Wildlife Conservancy (AWC).
Os especialistas acreditam que as primeiras cinco crias descendem de um grupo de numbats que foi reintroduzido em 2020 em Mallee Cliffs, parte de um plano da AWC e da autoridade australiana responsável pela gestão dos parques nacionais para devolver a espécie ao estado de Nova Gales do Sul.
As outras duas crias foram avistadas a brincar por entre os troncos de árvores e pensa-se ser um sinal de que essa população do Scotia Wildlife Sanctuary está a recuperar após “um declínio significativo” provocado por um evento de seca entre 2018 e 2019 na região.

Em tempos relativamente abundantes no sul da Austrália, encontrados da costa sudoeste do estado da Austrália Ocidental até o ocidente de Nova Gales do Sul e ao estado de Vitória, os numbats foram empurrados quase até à extinção devido à introdução humana de predadores, como gatos e raposas. Atualmente, a espécie está classificada como “Em perigo” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, com uma população estimada de 800 indivíduos maturos e em declínio.
É por isso que os avistamentos dos pequenos numbats são boas notícias.
“Ver sete jovens numbats diz-nos que a população está a reproduzir-se em condições ambientais favoráveis e a tornar-se mais estável”, diz, em comunicado, Rachel Ladd, ecológa de vida selvagem da AWC.
As raras imagens dos cinco numbats do parque nacional Mallee Cliffs foram captadas por Brad Leue, fotógrafo e videógrafo da organização conservacionista australiana, que teve a oportunidade para perceber como vivem esses animais marsupiais.
“Vi-os a explorarem o exterior da toca da família, que tem uma abertura do tamanho de uma chávena de café”, recorda. “Tive a sorte de observá-los durante um par de dias e de perceber a rotina de um jovem numbat, que envolve partilhar a toca com a mãe durante a noite, sair por volta das oito da manhã e brincar a não mais do que 50 metros da sua casa enquanto a mãe caça térmitas.”
Nessa área, Leue viu também outras tocas que acredita terem sido escavadas pela progenitora para servirem de abrigos às crias em caso de perigo.
Além das ameaças representadas pelos predadores introduzidos, os numbats estão também cada vez mais pressionados pelos efeitos das alterações climáticas. Ao contrário de outros marsupiais dessa região do mundo, são animais que estão ativos durante o dia, pelo que o aumento da temperatura média do planeta poderá intensificar ainda mais a pressão sobre esta espécie já ameaçada.
Num artigo publicado na revista ‘Journal of Experimental Biology’, investigadores da Universidade da Austrália Ocidental e da Universidade Curtin estimam, através de medições não-invasivas feitas com equipamentos de imagem térmica, que em dias de muito calor os numbats podem ver a sua atividade diurna limitada a um máximo de 10 minutos, além dos quais os seus corpos podem sobreaquecer, podendo ultrapassar os 40 graus Celsius de temperatura interna.
Embora o numbat, tendo evoluído em ambientes áridos e quentes, tenha estratégias para reter ou libertar calor, levantando o seu pelo para deixar a sua pele absorver a radiação solar ou baixando-o e usando-o como ‘escudo’ para evitar o sobreaquecimento, os cientistas consideram que tais adaptações podem vir a revelar-se insuficientes para fazer face a um clima mais e mais quente.