Da Índia rural para a civilização, com muito Sol (e energia)
Depois de dividir a sua formação entre o Instituto de Tecnologia da Índia e Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, Harish Hande não se tornou engenheiro eléctrico, como seus colegas. Ele tinha uma missão mais compexa e decidiu focar-se na socioeconomia da implantação de tecnologia.
Em 1995, Hande fundou a Selco – Solar Electric Light Company – e confiou o seu investimento à E+Co, uma organização de desenvolvimento internacional especializada em empreendedorismo social. O objectivo era conciliar o desenvolvimento social, económico e ambiental, e fazer chegar a tecnologia – a caríssima tecnologia das renováveis – à Índia pobre e rural. E, basicamente, destruir mitos.
“[Tentei] equilibrar a estabilidade social, económica e ambiental no mesmo nível. E destruir os mitos de que os pobres não podem pagar pela tecnologia, que não podem mantê-la e que não se pode gerir uma empresa comercial e atingir os objectivos sociais”, explicou.
Há 15 anos que a Selco faz parcerias com pequenos bancos da Índia rural, no sentido de levar a electricidade a mais de 100 mil casas, em vilas e aldeias que nunca tinham visto o brilho da luz eléctrica. Este parceria traz uma grande responsabilidade à família que recebe a benesse renovável: ela é dona do sistema e paga com microcréditos flexíveis.
Hande e a sua Selco são hoje portadores de inúmeras histórias sobre desenvolvimento social e económico. Porque mais do que levar a electricidade a casas, até então, às escuras, o empreendedor levou uma mudança de mentalidade a esta população, alguma educação e literacia.
Ora veja: a Selco descobriu um tipo de aritmética que só se pode aprender ao conhecer o dia-a-dia de uma população. Hande conta uma história de uma mulher que não podia pagar um painel solar se o empréstimo fosse de 300 rupias por mês, mas poderia fazê-lo a 10 rupias por dia. Porquê? Porque ela nunca conseguiria economizar 300 rupias do por mês mas, no seu dia-a-dia, usava 15 rupias em querosene. Eliminada esta despesa com o painel solar, ela já poderia pagar o empréstimo.
Outro exemplo de como há problemas que apenas podem ser resolvidos no terreno: há milhões de indianos pobres que têm telemóveis, ainda que não tenham tomadas para os carregar.
As recargas de telemóveis custam 5 rupias, quando o rendimento mensal médio de uma família é de apenas 1600 rupias por mês (€22; R$55). “É uma ironia. Enquanto ficamos mais pobres dentro do quadro da sociedade, mais energia gastam as pessoas. Se pensarmos nestes investimentos [em energia] a cinco anos, [as renováveis] ficam iguais ou mais barato”, explica o empreendedor.
Então, chegamos a uma conclusão: na Índia rural, a energia solar é mais barata que a convencional. E uma família que ganha 22 euros por mês está melhor servida – mesmo financeiramente – por uma fonte iluminada de energia limpa, ao contrário do que pensa meio mundo, sobretudo nos países desenvolvidos.
Uma das mais incríveis notícias recebidas, nos últimos meses, por Hande, explica que a melhor universitária formada, em 2010, no estado de Karnataka – onde fica o centro tecnológico da Índia moderna, Bengalore – cresceu numa aldeia iluminada pelos painéis solares da Selco. E isso, como se sabe, não tem preço.