De carnívoros a vegetarianos: Crânios de dinossauros revelam segredos sobre mudança de hábitos alimentares



Os dinossauros reinaram na Terra desde já há cerca de 245 milhões de anos até há 65 milhões de anos, quando se tornaram extintos, embora alguns tenham sobrevivido. As aves são amplamente consideradas pela ciência como sucessores de dinossauros não-aviários.

Até ao momento, perto de 700 espécies desses grandes répteis foram descobertas e identificadas, revelando uma grande variedade de planos corporais e também de hábitos alimentares. Embora quando pensemos em dinossauros as imagens dos colossos carnívoros possam ser as primeiras que nos surgem na mente, a maioria especializava-se em alimentações à base de plantas. Então quando terá surgido o vegetarianismo entre os dinossauros?

Uma equipa de cientistas do Reino Unido acredita ter encontrado a resposta para essa pergunta num grupo de dinossauros herbívoros conhecidos como Ornithischia, do qual fizeram parte répteis como o Triceratops, o Estegossauro e o Anquilossauro. Os primeiros Ornithischia terão vivido há mais de 200 milhões de anos, no Triássico, e eram sobretudo pequenos bípedes que tinham ossos pélvicos semelhantes aos das aves modernas.

Representação artística de como alguns dinossauros do grupo Ornithischia terão sido.
Crédito: The Trustees of the Natural History Museum of London

Através da análise dos vestígios fossilizados de alguns dos primeiros membros dos Ornithischia, os cientistas perceberam que não tinham ainda algumas das características anatómicas, especialmente ao nível do crânio, que os descendentes, especialistas herbívoros, apresentavam. Por isso, acreditam que foi dentro deste grupo que  o vegetarianismo terá evoluído, embora de forma gradual, como qualquer processo evolutivo.

Paul Barrett, do paleontólogo do Museu de História Natural de Londres e um dos autores da investigação divulgada na ‘Current Biology’, diz que, como os Ornithischia são descendentes de dinossauros carnívoros, a equipa queria saber como é que esses répteis “começaram a experimentar formas diferentes de comer plantas” e como isso influenciou a sua transição para uma alimentação exclusivamente vegetariana.

Para isso, analisaram os crânios de cinco dos primeiros Ornithischia: o Heterodontosaurus, o Lesothosaurus, o Scelidosaurus, o Hypsilophodon e o Psittacosaurus. Através tomografias computorizadas e da criação de modelos digitais tridimensionais, os cientistas procuraram reconstruir a estrutura muscular craniana para perceber como poderiam mastigar os alimentos e assim determinar qual o seu principal modo de alimentação.

Crânio de Psittacosaurus, um dinossauro de hábitos alimentares herbívoros do grupo Ornithischia.
Crédito: The Trustees of the Natural History Museum of London

Embora tenham concluído que todos esses cinco dinossauros comiam plantas, cada um deles fazia-o de forma diferente dos restantes.

Stephan Lautenschlager, da Universidade de Birmingham e outro dos autores, detalha que “descobrimos que cada dinossauro abordam os problemas associados da uma dieta à base de plantas ao adotar técnicas alimentares muito diferentes”.

Por exemplo, o Heterodontosaurus terá tido grandes músculos maxilares que o terão ajudado a mastigar vegetação mais dura, ao passo que o Scelidosaurus, apesar de se pensar que tinha uma mordida poderosa, apresentava músculos maxilares mais pequenos, pelo que a sua alimentação herbívora deverá ter sido composta por plantas mais macias e fácil de triturar.

“A maioria dos dinossauros eram comedores de plantas” ao contrário do que muitos de nós possamos pensar, diz Paul Barrett, apontando que desvendar os segredos dos seus hábitos alimentares é fundamental para que possamos compreender como é que os herbívoros se vieram a tornar o grupo dominante em todo o planeta.

David Button, da Universidade de Bristol e outro dos autores, detalha que, apesar de poderem ter tido aspetos muitos parecidos, estes dinossauros estudados terão evoluído de formas distintas.

“Esta investigação ajuda-nos a perceber como os animais evoluíram para ocupar novos nichos ecológicos”, explica Button, assinalando que “mesmo animais semelhantes que adotaram dietas parecidas nem sempre evoluem as mesmas características”.





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