“Demasiado pouco, demasiado tarde”: Falhar na adaptação às alterações climáticas “coloca o mundo em risco”, alerta agência das Nações Unidas
À medida que o planeta se torna mais quente, fruto da continuada emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera gerados pela atividade humana, os riscos climáticos também se tornam cada vez maiores, e sinais dessa perigosa transformação estão já por toda a parte e são já inegáveis: fogos florestais mais frequentes, intensos e duradouros, secas extremas, ondas de calor, cheias sem precedentes, entre outros.
Contudo, e apesar de alguns esforços que procuram adaptar comunidades e economias às alterações climáticas, o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) alerta que o que está a ser feito é “demasiado pouco, demasiado tarde”. No seu relatório ‘Adaptation Gap Report 2022’, a agência salienta que “os impactos climáticos estão a aumentar por todo o mundo”, indicando como exemplo a seca que há vários anos afeta o Corno de África, as cheias no sul da Ásia e o calor extremo que marcou este verão em várias regiões do hemisfério Norte.
Se os países não fizerem mais para alcançar os compromissos internacionais assumidos e para, realmente, cortar drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa, o UNEP acautela que os prejuízos serão significativamente maiores do que os custos de adaptação e de mitigação, e que a pouca ação, ou mesmo inação, “coloca o mundo em risco”.
Assim, “é fundamental” colocar em prática medidas que visem adaptar os países, comunidades e indústrias às alterações climáticas, que devem ser acompanhadas de “esforços robustos de mitigação” dos seus efeitos. Contudo, e reconhecendo que “nem os investimentos mais ambiciosos em adaptação podem totalmente evitar impactos climáticos”, o UNEP indica que os países têm também de alinhar-se para compensar as nações e comunidades mais afetadas.
Nesse quadro, a agência diz que é urgente não colocar de lado investimentos em adaptação e mitigação, mesmo numa altura em que o contexto geopolítico, as consequências que ainda persistem da pandemia de Covid-19 e as crises energética e alimentar que hoje pautam o mundo pressionam cada vez mais os Estados.
De facto, têm sido dados passos importantes no sentido de reforçar a adaptação de países e comunidades às consequências das alterações climáticas, que o UNEP descreve como “progresso”, mas mesmo essas ações “têm falhado em acompanhar o ritmo do aumento dos riscos climáticos”. Por isso, apela a que os governos de todo o mundo “acelerem” o trabalho que precisa de ser feito.
O financiamento internacional para a adaptação dos países em desenvolvimento “continua a aumentar”, tendo em 2020 chegado quase aos 30 mil milhões de euros. Ainda assim, fica aquém dos compromissos assumidos pelos países mais ricos, que são também os que mais contribuíram para as alterações climáticas, pelo que contas do UNEP apontam para que, se esse ritmo de financiamento se mantiver nos níveis de hoje, o compromisso de canalizar perto de 100 mil milhões de euros para os países mais pobres só será alcançado por volta de 2025, em vez de em 2023 como plasmado no Pacto Climático de Glasgow, estabelecido na COP26 d2 2021.
“Ações robustas de mitigação são necessárias para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais” e para que sejam evitados os piores cenários, argumentam os relatores. Os atuais esforços de adaptação “ficam lamentavelmente aquém do que é exigido” e é precisa uma “vontade política forte” para ser possível concretizar os objetivos de descarbonização, para adaptar os países e comunidades às alterações climáticas, para fortalecer os programas de financiamento aos países mais pobres que estão na linha da frente dos impactos climáticos e para compensá-los por perdas e danos associados.
“Estamos numa emergência climática e a escorregar para um desastre climático, que trará consigo consequências devastadoras para a saúde humana, para a prosperidade económica e, claro, para a natureza”, alerta Inger Andersen, diretora-executiva do UNEP.