Depois de um dia de ‘trabalho’, abelhões podem voltar às flores mais “rentáveis”
À medida que o sol se põe e que a luminosidade diminui, a maior parte dos insetos polinizadores diurnos regressa às suas colónias. Contudo, uma espécie parece continuar ativa e determinada em levar para casa a maior quantidade possível de pólen: o abelhão.
Investigadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, realizaram experiências numa paisagem agrícola para estudar os comportamentos de recolha de pólen do abelhão-terrestre (Bombus terrestres) durante a hora que antecede o pôr-do-sol.
Os resultados sugerem que alguns indivíduos dessa espécie da família das abelhas (Apidae) durante o anoitecer podem voltar às flores que visitaram durante do dia e que apresentavam as maiores quantidades de pólen. Contudo, os cientistas perceberam que, na hora anterior ao pôr-do-sol, os abelhões regressavam às colónias com menores quantidades de pólen do que as que recolheram durante o dia.
Katy Chapman, principal autora do artigo publicado na revista ‘Animal Behaviour’, diz que “ao analisarmos o pólen, descobrimos que as abelhas no nosso estudo estavam a visitar as mesmas espécies de flores durante o anoitecer que tinham visitado durante do dia”.
Reconhecendo que é preciso mais investigação para realmente perceber esse comportamento peculiar e arriscado, pois com a perda de luz solar as abelhas ficam mais expostas aos predadores noturnos ou arriscam perder-se da colónia, Chapman e a sua equipa sugerem que as abelhas escolhem fazer uma última ronda de colheita de pólen ao anoitecer e escolhem visitar flores que sabem ser boas fontes de alimento, porque já as visitaram anteriormente. Contudo, regressam à colónia com menos quantidade de pólen do que seriam capazes de transportar.
Com este estudo, os cientistas esperam ajudar a compreender melhor como os níveis de luz solar afetam o comportamento de recolha de alimento das abelhas, e especialmente como é que a iluminação artificial, por exemplo, que é emanada de candeeiros nas ruas, pode estar a influenciar esses pequenos insetos polinizadores.
“Os abelhões estão tipicamente ativos durante o dia, quando os níveis de luz são elevados”, detalha Chapman, acrescentando que a equipa de cientistas está agora a considerar se a poluição luminosa poderá influenciar o comportamento das abelhas, visto que quando a iluminação artificial começa a ser ligada as abelhas ainda costumam estar ativas, e isso poderá alterar a forma como esses insetos interpretam o meio envolvente.
Escrevem os autores que “a prevalência da iluminação artificial está a aumentar a uma escala global” e que vários estudos indicam que a exposição a esse tipo de iluminação “pode afetar negativamente” o comportamento dos insetos e até “reduzir as visitas de polinizadores a flores”, o que poderá ter consequências ao nível do ecossistema.