Desenvolvimento rural sustentável é a nova prioridade da Grande Muralha Verde



A Grande Muralha Verde alterou o seu foco para um desenvolvimento rural mais abrangente, que ajuda os países do Sahel e do Saara nos desafios da sustentabilidade, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.   ​​​​​

Este desenvolvimento rural inclui “a melhoria dos sistemas de produção que sustentam a subsistência dos pequenos agricultores e comunidades pastoris para aumentar a segurança alimentar, criar empregos, e impulsionar a economia local, através de uma gestão sustentável da terra”, explicou o coordenador da iniciativa da Grande Muralha Verde (GGW, na sigla em inglês) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla em inglês), Adamou Bouhari, em declarações à agência Lusa.

O Fundo Mundial para o Ambiente (GEF, na sigla em inglês), juntamente com o UNEP, o Banco Mundial e a agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), têm desempenhado um papel de liderança na transformação da iniciativa original, que era a plantação de árvores, para uma que se centra na gestão integrada dos recursos naturais para melhorar os meios de subsistência e as paisagens, afirmou Bouhari. ​​

“A GGW inverte a desertificação e degradação da terra numa altura em que as alterações climáticas e a perda de biodiversidade ameaçam a segurança alimentar”, alertou a secretária-executiva adjunta da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (CNUCD), Tina Birmpili.

“Uma vez concluída, terá restaurado 100 milhões de hectares de terra degradada nos 11 países da região do Sahel-Saara e terá criado até dez milhões de empregos”, explicou a responsável, num relatório publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Todos os países da GGW na zona subsaariana pertencem ao grupo dos Estados menos desenvolvidos do mundo, referiu Bouhari.

Certos países iniciaram a implementação das atividades da GGW desde 2007, enquanto outros começaram em 2014, quando o projeto foi ratificado.

“As disparidades entre as realizações de diferentes países também surgem de condições específicas de cada nação, que por vezes atrasam o processo de implementação planeado”, explicou Bouhari.

Os 11 Estados-membros da GGW envolveram-se em diferentes atividades da gestão sustentável dos terrenos,​ incluindo medidas de conservação da água e do solo, bem como atividades nos setores da silvicultura e agricultura.

Neste contexto, restauraram-se e conservaram-se terras para aumentar a resistência às alterações climáticas e assegurar a produção sustentável de alimentos, como, por exemplo, reflorestações.

Outras medidas foram o estabelecimento de pomares de fruta, bem como hortas polivalentes e viveiros comunitários para a produção de plantas.

Além disso, sendo a seca e a escassez de água um dos principais problemas ambientais na região do Sahel, a maioria dos países abordou esta questão através de medidas de conservação de água, tais como a gestão de bacias hidrográficas, perfurações e técnicas de colheita de água.

“As árvores que são plantadas são nativas e têm um forte valor económico e potencial para desenvolver a cadeia de valor”, explicou o coordenador.

Estas incluem espécies de acácia no Chade, Níger, Mali, Senegal ou Sudão, o Baobá, principalmente no Senegal, ou a árvore Moringa no Burkina Faso, Níger e Mali.

As energias renováveis estão a ser implementadas em alguns países, particularmente a energia solar, que é utilizada para a perfuração de água, disse.

“Existe potencial para a energia eólica e hidroelétrica, mas estas ainda não foram exploradas, certamente devido aos limitados recursos financeiros”, concluiu Bouhari.

Para a organização não-governamental (ONG) Greenpeace, “é igualmente importante combater o abate ilegal de árvores e outros fatores de degradação contínua”, disse à agência Lusa o coordenador de comunicação internacional da Greenpeace África, Tal Harris.

Para a ONG, se a iniciativa for bem executada “um trilião de árvores plantadas, de espécies nativas, pode ajudar a ligar os ecossistemas naturais existentes”.

A GGW pode ainda “ajudar a diversificar paisagens agrícolas degradadas”, combater a desertificação “e construir resiliência paisagística para impactos climáticos emergentes, criando um microclima melhor”, explicou Harris.

Se as bacias hidrográficas e a biodiversidade forem protegidas e “geridas de forma sustentável nas mãos das comunidades, podem criar rendimentos, através de financiamento internacional”, afirmou Harris.

“Precisamos urgentemente de diminuir as emissões [de carbono] em todos os setores e restaurar os ecossistemas”, concluiu.





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