Desflorestação e agricultura ameaçam centenas de espécies de aves no Peru
Na região tropical da cordilheira dos Andes, dentro das fronteiras do Peru, várias espécies endémicas de aves estão a sofrer declínios populacionais por causa da desflorestação e da expansão das explorações agrícolas.
Através da análise de artigos anteriormente publicados e de trabalho de campo que estendeu de 2014 a 2019, uma equipa de investigadores das universidades da Flórida (Estados Unidos da América) e de Berna (Suíça) descobriu que a eliminação de floresta está a provocar declínios de até 60% em algumas espécies de aves na região peruana, que têm diferentes necessidades de habitat e alimentação. Mas a uniformização inerente a muitas práticas agrícolas está a reduzir significativamente a diversidade ecológica de que esses animais dependem para sobreviver.
Os Andes tropicais são considerados um ‘ponto quente’ de biodiversidade, albergando mais de 1.500 espécies de aves, muitas das quais não ocorrem em mais lugar nenhum. E algumas, ao longo de milhares de anos de evolução, desenvolveram adaptações que os tornam dependentes de condições ambientais específicas e, assim, mais vulneráveis a perturbações causadas pelos humanos.
Durante o trabalho de campo, os investigadores estudaram comunidades de aves residentes em vários tipos de paisagens: desde áreas florestadas intocadas pela agricultura até zonas silvopastoris.
Os dados recolhidos permitiram perceber que o número de espécies de aves em pastagens abertas era até 93% inferior ao registado nas florestas. Mas constataram também que era possível aumentar entre 18% e 20% a riqueza de espécies nas zonas intervencionadas com a plantação de mais árvores ou com a instalação de ‘sebes vivas’, formadas por árvores, arbustos ou plantas herbáceas.
Uma das espécies abrangidas por esta investigação foi a Poecilotriccus luluae, um pequeno passeriforme insetívoro de cores garridas cuja distribuição está limitada à região norte do Peru. Espécie ameaça, tem como habitat preferencial as paisagens arbustivas que se formam entre 15 e 30 anos depois de uma zona de pastagem ter sido abandonada e reconquistada pela vegetação.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Conservation Biology’, os cientistas recomendam a preservação e proteção de áreas florestais maduras, que, como dizem, “servem de reservatórios para a diversidade de aves da floresta”. Além disso, argumentam que é também importante manter intocadas algumas árvores em zonas de pastagem, bem como habitats arbustivos, como os que são preferidos pelos P. luluae.
Embora reconheçam que os efeitos das alterações climáticas são também um fator de grande importância na alteração da paisagem do Peru, e no declínio das espécies de aves, os autores dizem que a agricultura “é uma das principais causas da desflorestação na região” e que “não mostra sinais de abrandamento”, uma vez que a população humana não pára de aumentar.
“Se não existir floresta ou se as florestas forem demasiado pequenas para sustentarem organismos, então vamos assistir à perda destas aves, independentemente do que acontecer ao clima”, alerta Scott Robinson, um dos investigadores que assina o artigo.
Os cientistas explicam que a desflorestação é sobretudo causada por famílias que dependem de culturas agrícolas e da criação de gado para subsistirem, e acreditam que os resultados deste trabalho permitirão ajudar essas comunidades a tomarem as decisões mais acertadas no futuro “para que possam ter vidas com qualidade, ao mesmo tempo que mantêm um alto nível de biodiversidade nos seus quintais”.