Dia Nacional da Sustentabilidade: “Em Portugal, há um crescente despertar para a sustentabilidade no mercado imobiliário”
No âmbito do primeiro Dia Nacional da Sustentabilidade, em Portugal, que se assinala hoje, 25 de setembro, falámos com Maria Sacadura, Botte, Head of Project & Development Services and Sustainability na JLL Portugal. Para a responsável, “há um crescente despertar para a sustentabilidade no mercado imobiliário”.
“Investidores, operadores e ocupantes estão cada vez mais preocupados com esta temática e estão a implementar medidas nesse sentido. Algumas empresas chegam mesmo a optar por não ocupar edifícios que não possuam características sustentáveis, o que impulsiona a procura por imóveis certificados nesta área. Como resultado, os edifícios que possuem certificações sustentáveis têm uma maior procura no mercado imobiliário”, diz Maria Sacadura em entrevista à Green Savers.
Nesta entrevista, a responsável fala ainda do papel das agências imobiliárias em relação aos grandes desafios que a crise ambiental e as alterações climáticas estão a lançar a nível global, da importância de mudar hábitos e comportamentos e dos maiores desafios da sustentabilidade no setor imobiliário.
O que é sustentabilidade no mercado imobiliário e de que forma é que influencia o valor dos imóveis e afeta os investidores?
O panorama de grande alerta face às alterações climáticas espelha-se em legislação cada vez mais exigente relativamente à sustentabilidade. A conjuntura atual torna o mercado extremamente competitivo e complexo, fazendo com que os investidores se preocupam cada vez mais com o risco da desvalorização dos imóveis a longo prazo. O “cost of doing nothing” poderá ser alto e os ativos ficarem rapidamente obsoletos.
É importante pensar em sustentabilidade desde o início dos processos imobiliários, desde o projeto, até à construção, reabilitação e operação, com especial relevo nos pilares ambiental e social.
Qual o papel das agências imobiliárias em relação aos grandes desafios que a crise ambiental e as alterações climáticas estão a lançar a nível global?
As consultoras imobiliárias têm a responsabilidade de sensibilizar para as melhores práticas da sustentabilidade e guiar os seus clientes a implementarem de forma robusta as suas estratégias. Para isso, as consultoras têm hoje especialistas nas áreas técnicas e legais que acrescentam valor em todo o processo. Na JLL temos um departamento de sustentabilidade que atua a nível nacional e internacional e que apoia na análise os ativos e na definição das estratégias de sustentabilidade.
O imobiliário é responsável por quase 40% das emissões de carbono globais e tem um papel crítico na transição para a neutralidade carbónica. De que forma se pode reduzir o impacto ambiental deste setor?
De forma sumária: existem várias estratégias para alcançar esse objetivo, como o uso de tecnologias avançadas, adoção de BIM (Building Information Modeling), mudança para a pré-fabricação, escolha de materiais responsáveis com menor pegada de carbono, melhoria da eficiência energética nos edifícios e gestão adequada de resíduos e água, entre outros. Contudo, o mais importante é sensibilizar os stakeholders desta área para a necessidade de atuação no património enquanto os ocupantes devem continuar a ser sensibilizados para uma utilização sustentável.
O caminho para a descarbonização é, neste momento, o grande desafio do setor?
Sem dúvida, por que existem metas muito apertados para 2030 e 2050 o que implicará algum investimento por parte dos investidores, tal como uma planeamento e gestão cuidada para que não se deixe de tornar atrativo do ponto de vista financeiro
A ideia de atingir a neutralidade carbónica e reduzir o impacto das alterações climáticas depende muito do que se fizer nas nossas casas?
Sim, mudar hábitos e comportamentos em relação ao consumo de energia, água e outros recursos é essencial para enfrentar este desafio. As gerações mais jovens já estão conscientes desta necessidade, o que indica um caminho positivo para o futuro.
Ana Luísa Cabrita, Head of Environmental and Sustainability Advisory Services da Engexpor, disse em entrevista ao Idealista que há em Portugal “um despertar para a sustentabilidade”. A procura por edifícios sustentáveis está a aumentar?
De facto, em Portugal, há um crescente despertar para a sustentabilidade no mercado imobiliário. Investidores, operadores e ocupantes estão cada vez mais preocupados com esta temática e estão a implementar medidas nesse sentido. Algumas empresas chegam mesmo a optar por não ocupar edifícios que não possuam características sustentáveis, o que impulsiona a procura por imóveis certificados nesta área. Como resultado, os edifícios que possuem certificações sustentáveis têm uma maior procura no mercado imobiliário.
“A Europa vai passar pela vergonha de chegar a 2030 e nada estar feito” no que diz respeito à melhoria da eficiência energética dos edifícios, afirmou Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), no ano passado. Concorda?
As metas são muito ambiciosas, para todos. A inércia de começar foi grande, mas já se venceu, sobretudo pela consciencialização coletiva muito resultante da criação e obrigatoriedade de políticas de sustentabilidade.
Quais são os maiores desafios da sustentabilidade no setor imobiliário?
Os maiores desafios da sustentabilidade no setor imobiliário estão relacionados com o enorme volume de stock existente de imóveis, que não se regenera de forma rápida e fácil. A natureza do sector não permite que se transforme a alta velocidade. No entanto, todos os novos grandes projetos já estão a ser concebidos tendo em consideração metas sustentáveis.