Efeitos das alterações climáticas nas doenças infeciosas são desconhecidos para metade da população mundial



A transmissão de doenças infeciosas específicas tem sido alterada por processos ligados a anomalias climáticas e ambientais. Espera-se que um aumento de surtos infeciosos seja visto em climas amenos devido ao aquecimento global, e as alterações nos padrões climáticos, como o El Niño, estão a modificar a presença, densidade, força e dinâmica de transmissão de muitos vírus e patógenos.

Compreender como a variabilidade do clima afeta a transmissão dessas doenças é importante para os cientistas e para o público em geral. Muito foi feito para aumentar a conscientização sobre as alterações climáticas nos últimos anos, mas parece haver ainda uma falta generalizada de conhecimento sobre os efeitos das alterações climáticas nas doenças infecciosas.

Um estudo publicado recentemente na PlosOne e realizado por alunos do mestrado internacional Erasmus Mundus IDOH + (Doenças Infecciosas e Uma Saúde) coordenado pela Université de Tours, a UAB e a Hannover Medical School, revela que quase metade da população desconhece a relação entre as alterações climáticas e o seu efeito nas doenças infecciosas.

A investigação foi baseada numa pesquisa transversal multinacional, na qual um total de 458 participantes de todo o mundo foram avaliados para descobrir os seus conhecimentos sobre os efeitos das alterações climáticas no surgimento de doenças infecciosas.

Os resultados revelam um desconhecimento do público em geral e com diferenças marcantes de acordo com a nacionalidade e a escolaridade. Um total de 48,9% dos participantes nunca tinha considerado os efeitos das alterações climáticas nas doenças infecciosas. Esse percentual cai para 38,4% entre os que possuem sólidos conhecimentos de ciências naturais e sobe para 59,2% entre os que atuam em setores não relacionados com a ciência. Apesar dessa diferença, a pesquisa também demonstrou que o conhecimento e a consciência sobre as alterções climáticas não têm relação com o nível de escolaridade dos participantes, visto que a divulgação científica de temas relacionados com o meio ambiente tem sido muito intensificada nos últimos anos.

A grande maioria dos participantes (64,6%) tinha medo de contrair uma doença infecciosa. Na Europa, os participantes tiveram menos medo (51,7%) do que os americanos (71,4%) e asiáticos (87,7%). Em relação às medidas de proteção, a grande maioria (70,5%) consulta a necessidade de vacinas antes de viajar para um país tropical. Em consonância com esta observação, mais da metade dos inquiridos (56,1%) tinha medo de contrair uma doença infecciosa num país tropical, embora tenham sido detectadas diferenças de acordo com a nacionalidade: neste caso, os participantes europeus tiveram mais medo (72,0%), quando em comparação com os participantes dos EUA (41,3%) e asiáticos (37,7%).

Segundo Max van Wijk, aluno Erasmus Mundus IDOH + e um dos autores do estudo, “estes dados podem ajudar a estabelecer medidas de intervenção que possam sensibilizar o público para questões relacionadas com as alterações climáticas e doenças infecciosas, dentro do conceito de Um Saúde”.

“O estudo foi realizado com objetivo académico, mas contém conteúdo inédito que pode ser aplicado a outros estudos científicos”, explica Marga Martín, docente do Departamento de Saúde e Anatomia Animal da UAB, uma das coordenadoras do programa.





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