Elefantes escolhem os caminhos que os levam diretamente ao alimento preferido
Desengane-se quem acha que os elefantes andam à deriva e sem rumo pelas planícies de África. Ao invés, esses grandes mamíferos tomam decisões conscientes quanto ao caminho a tomar, e optam por escolher os trilhos que têm as suas plantas preferidas ou os que levam diretamente a elas.
Investigadores da Universidade de Oxford, em colaboração com a associação ‘Save the Elephants’, usaram imagens de satélite para monitorizar os movimentos dos elefantes na localidade de Sagalla, no Quénia. O objetivo era perceber como a diversidade e dispersão das plantas influenciam as rotas escolhidas por esses animais, pois é uma peça fundamental para que se possam implementar estratégias para minimizar os confrontos entre humanos e elefantes.
Durante as observações, que se estenderam entre 2015 e 2020, o trio de especialistas descobriu que os elefantes tomam realmente decisões sobre qual o caminho a seguir puramente com base na disponibilidade das suas plantas preferidas. Assim, segundo as conclusões, publicadas na revista ‘Remote Sensing’, os machos tendem a optar por caminhos que tenham ou que levem diretamente a plantas dos géneros Combretum ou Cissus, que são apenas consumidas pelos machos dominantes. Por outro lado, os grupos familiares, principalmente compostos por fêmeas e crias, optam por escolher caminhos com plantas dos géneros Commiphora ou Terminalia.
Contudo, se os machos, as fêmeas e as crias estiverem a viajar juntos, então o grupo tenderá a enveredar por trilhos onde seja possível encontrar as plantas comidas por todos os seus elementos.
Além de comprovar que os gigantes da savana realmente escolhem os caminhos com base nas suas preferências de alimento, o estudo, assim esperam os autores, poderá ajudar a identificar zonas de potencial conflito entre humanos e elefantes, através da identificação das áreas onde se localizam as plantas mais procuradas por esses animais e avaliando a sua proximidade a assentamentos humanos.
Tanto os elefantes como os humanos têm desempenhado papéis significativos na estruturação da savana africana, mas a atividade humana tem conseguido sobrepor-se, “com consequências imprevisíveis para os ecossistemas e biodiversidade”, argumentam os autores.
A par disso, a expansão de infraestruturas humanas, como estradas, campos agrícolas e cidades, têm colocado cada vez mais pressão sobre os habitats e sobre a vida selvagem, aumentando a frequência dos encontros entre humanos e elefantes, com desfechos frequentemente desastrosos para ambos.
Lucy King, uma das investigadoras envolvidas neste projeto, aponta que esse conhecimento é fundamental para a implementação de “esforços de mitigação” que minimizem encontros indesejados entre humanos e elefantes.
Além disso, ajudará a fortalecer a gestão da vegetação nos parques naturais, no Quénia e noutras partes do mundo, procurando proteger e aumentar a disponibilidade das plantas mais procuradas, e, dessa forma, reduzindo a probabilidade de os elefantes se aproximarem de zonas de habitação ou de áreas agrícolas em busca de alimento.