Elevar as ilhas ou construir novas pode salvar as Maldivas da subida do nível do mar
O derretimento dos glaciares, provocado e acelerado pelo aquecimento global impulsionado pelas emissões de gases com efeito de estufa, está a fazer subir o nível da água do mar, colocando em risco muitas comunidades, humanas e não-humanas, que vivem nas regiões costeiras.
Dados da NASA indicam que desde 1993, o mar terá subido, em média, 10 centímetros, o que levou já o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a considerar que tal tem o potencial para criar “novas fontes de instabilidade e conflito” e que, nas próximas décadas, várias zonas e até países inteiros podem mesmo vir a desaparecer para sempre.
À medida que o mar conquista cada vez mais terra, espera-se um “êxodo massivo de populações inteiras a uma escala bíblica”, com um aumento da competição por recursos vitais, como a água doce, colocando em risco a vida de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo.
Pequenos Estados insulares estão entre os mais ameaçados, correndo o risco de ver grande parte do seu território, se não mesmo todo, ser engolido pelas ondas. Um deles é as Maldivas.
Mas uma nova investigação científica crê ter encontrado uma boa solução para que o arquipélago possa sobreviver à subida do nível do mar: elevar artificialmente as ilhas ou criar novas.
A capital Malé e outras regiões têm já sentido a pressão da migração de pessoas que aí procuram refúgio, depois de terem abandonado as suas ilhas de origem devido ao avanço, terra adentro, das águas marinhas.
Robert Nicholls, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, e um dos coautores do artigo publicado esta semana na ‘Environmental Research: Climate’, explica que “os nossos resultados indicam que, no limite, toda a população das Maldivas poderia viver em apenas duas ilhas que sejam construídas a uma elevação significativamente maior do que a das ilhas naturais, para fazer frente à subida do nível do mar”.
No entanto, o cientista avisa que essas ilhas artificiais seriam muito diferentes das ilhas paradisíacas que associamos às Maldivas, com as suas praias pristinas de areia branca e águas cristalinas. A novas ilhas seriam “muito urbanas, com vários edifícios altos”, à semelhança do que se pode já ver na capital maldivana.
Outras ilhas artificiais, sustenta Nicholls, poderiam ser especialmente desenhadas para acolher o turismo e outras atividades económicas.
Os investigadores defendem que com um “investimento significativo” em projetos de engenharia e com “apoio do governo”, a população das Maldivas, quer ronda os 500 mil habitantes (quase o mesmo que a cidade de Lisboa), poderá continuar a viver no seu país durante muito tempo e evitar ser forçada abandoná-lo, numa verdadeira ‘migração climática’, para fugir à subida do mar.
O abandono do seu país de origem poderia causar grandes perdas sociais, sobretudo ao nível cultural e identitário, mas também gerar uma elevada taxa de desemprego numa população que passaria a ser constituída por refugiados ambientais.
A prática de elevar ilhas e de criar novas já não é nova para os maldivanos, mas os cientistas dizem que a elevação deverá ser maior, de seis metros ou mais, face ao nível do mar, comparativamente aos atuais dois metros.
Contudo, esta abordagem só funcionará se acontecer em conjunto com medidas de mitigação das alterações climáticas, como a redução drástica e urgente das emissões de gases com efeito de estufa. É uma solução alternativa, mas não é uma solução ‘mágica’, uma vez que, mesmo que amanhã se deixasse de queimar combustíveis fósseis, a durabilidade dos gases continuaria a fazer derreter os glaciares e plataformas geladas da regiões mais polares do planeta. Por isso, além da mitigação, a adaptação é também a chave para a sobrevivência.
Nicholls afirma que esta abordagem “é uma forma de estas ilhas e comunidade poderem prosperar apesar destas ameaças”, procurando uma alternativa a “uma visão pessimista” que toma como praticamente inevitável o desaparecimento dessas ilhas, com todas as consequências que disso podem resultar.
Esta semana, citando previsões científicas, o Presidente da Assembleia-geral das Nações Unidas, Csaba Kőrösi, afirmou, perante os membros do Conselho de Segurança, que entre 250 e 400 milhões de pessoas seriam forçadas, nos próximos 80 anos, a deixar as suas casas por causa do avanço do mar sobre a terra.