Empresas B Corp: olhar para o planeta e para as pessoas com respeito



Imagine um mundo onde as empresas não estão apenas interessadas em fazer lucro a todo o custo. Imagine um mundo onde as empresas estão empenhadas em gerar riqueza para todos, incluindo a comunidade em que se inserem. Imagine, também, um mundo onde as empresas não só têm consciência de que os recursos do planeta são limitados, como trabalham para que a economia moderna seja sustentável.

Dito assim, até parece que estamos a falar de uma utopia inalcançável, uma fábula realizada apenas através de um guião de Hollywood. Mas a verdade é que estas empresas existem e não são apenas pequenas corporações feitas por um punhado de sonhadores que vê o meio ambiente (e também os seus funcionários) como uma prioridade. Há grandes multinacionais como a Danone a passar para o lado de lá, para o lado de quem prioriza os mais altos standards de desempenho ambiental e social.

 

Empresas B

As B Corp, ou empresas B, são “empresas que estão para os negócios como a certificação Fair Trade está para o café”. São empresas com fins lucrativos, certificadas pela organização não governamental B Lab para garantir que cumprem standards de desempenho social, ambiental, transparência e de prestação de contas. Hoje, existem mais de 2100 empresas B Corp em 50 países e mais de 130 indústrias que estão a trabalhar para redefinir o que é ser um negócio de sucesso.

Luís Amado é o representante da B Lab em Portugal, ou aquilo que ele chama de “um movimento que inclui marcas como a Danone e a Natura”.

Mas de onde vem este movimento de sustentabilidade? A génese começa com um grupo de três norte-americanos que depois de vender a sua empresa de vestuário por 350 milhões de dólares descobre que os novos acionistas estragaram tudo aquilo que eles se tinham esforçado por fazer. “Durante cinco ou seis anos, tinham gerido a empresa com um enorme respeito pelos colaboradores e fornecedores, e isso tinha sido a razão do seu sucesso. Houve alturas em que não tinham dinheiro para pagar, mas as pessoas iam trabalhar na mesma porque acreditavam neles,” comenta Luís Amado. Foi esta reviravolta no destino da empresa levada a cabo pelos novos acionistas que motivou os três sócios originais a criar o B Lab bem como um método de certificar empresas que se esforçam por tornar o mundo um lugar melhor.

 

Hovione

“A Hovione decidiu aderir ao movimento B por rever aqui os seus valores e assim poder aprofundar mais a sua aplicação prática. Sempre fez parte do ADN da Hovione desenvolver o negócio tendo em atenção as pessoas e o ambiente, e encontrámos neste movimento o alinhamento perfeito para reforçar essa mensagem e divulgá-la no mundo inteiro. A Hovione tem quase 60 anos e desde sempre se preocupou com as pessoas que nela trabalham e com o bem-estar das suas famílias, desde oferecendo pão, leite e água até investindo em cantinas onde as refeições são confecionadas no local. A preocupação com o ambiente que nos envolve levou a que, na década de ‘90, a Hovione investisse na construção de uma fábrica exclusivamente dedicada à recuperação e reciclagem dos solventes que utiliza nos seus processos de fabrico. Também a comunidade local em todos os locais onde operamos recebeu sempre uma atenção particular, contribuindo para o seu bem-estar e para o seu desenvolvimento.

O sistema B torna-se bastante forte e presente na medida em que proporciona às organizações uma ferramenta de divulgação da sua forma de estar, promovendo um alinhamento com os melhores exemplos e evidenciando que é possível fazer negócios contribuindo para um mundo melhor.”

Maria José Macedo, Directora para a Sustentabilidade, Hovione

 

Para conseguir o certificado, uma empresa preenche um questionário com 160 questões espalhadas por diferentes áreas (social, ambiental, transparência e prestação de contas) e envia documentação que suporte as afirmações que faz. Se conseguir um mínimo de 80 pontos é designada como empresa B Corp. A partir daqui, passa a estar no website BCorporation, ao qual qualquer um de nós pode aceder para ver a pontuação obtida pela empresa.

Luís Amado diz que ser este processo é também uma ferramenta de gestão que permite à empresa medir e avaliar diferentes áreas, progredir nelas e reestruturar-se se assim o quiser, para melhorar o seu desempenho no que toca à sustentabilidade.

No grupo de empresas B Corp, Luís Amado diz que há de tudo um pouco, desde pequenas empresas a multinacionais. Só não há “empresas que vão contra os fundamentos do movimento, como petrolíferas, tabaqueiras ou empresas de armas, por exemplo.”

 

Manipedi

Uma das facetas mágicas de fundar um negócio é que nos é permitido sonhar e desafiar as regras. Quando o fazemos sem sócios podemos definir essas regras à nossa maneira, à nossa imagem. As minhas preocupações sociais não se sobrepuseram à vontade de criar uma empresa rentável; foram dois elementos que naturalmente se fundiram na origem da The Manipedi – Nail Spa. A empresa veio dar resposta a uma necessidade do mercado português (manicures e pedicures profissionais) e, ao mesmo tempo, veio capacitar e empregar mulheres com dificuldades crónicas em conseguir um emprego estável. A certificação B não mudou a minha forma de fazer negócios mas colocou-me e à The Manipedi numa rede de pessoas com abordagens semelhantes, distribuídas por todas as indústrias, em Portugal e no resto do Mundo.

Empresas em que gestores e líderes se preocupam com os stakeholders em todas as suas decisões são empresas com colaboradores motivados, consumidores fidelizados e retornos superiores para os investidores.”

Catarina Soares, Diretora Executiva da The Manipedi

 

O futuro é B

Podem ser várias as razões que levam uma empresa a querer ser mais sustentável. Mas se é verdade que as empresas têm fins lucrativos e têm de gerar dinheiro, também é verdade que ser sustentável é uma boa forma de apostar num futuro em que isso é não só verdade mas também uma vantagem relativamente aos seus concorrentes.

“Já começam a aparecer estudos que mostram que os empréstimos vão ser mais baratos para empresas B, não por serem B mas porque a perceção de risco das empresas B é menor quando comparada com as outras. Se a sustentabilidade é maior, o risco é menor.”

Mas há outras vantagens em ser uma empresa B para lá dos empréstimos mais baratos. Já há empresas que usam redes como o Global Impact Investing Network e a certificação B para decidir onde vão investir o seu dinheiro. E fazem-no porque associam esta certificação a empresas mais resilientes que dão maiores retornos e médio e a longo prazo.

No início deste ano, Larry Fink, CEO da Black Rock, um dos maiores fundos de investimento mundiais que gere 6 mil biliões de dólares, enviou uma carta aos CEOs das maiores empresas públicas do mundo a encorajá-los a ter em conta as implicações para a sociedade das suas decisões de negócios e para se focarem no longo prazo. “A sociedade está a exigir que as empresas, tanto públicas como privadas, sirvam um propósito social. Para prosperarem, cada empresa tem não só de ter um bom desempenho financeiro, mas mostrar como fazem para contribuir de forma positiva para a sociedade. As empresas têm de beneficiar todas as partes interessadas, incluindo acionistas, empregados, clientes e as comunidades onde operam”, disse Larry Fink.

A praticamente exigência do CEO de um dos maiores fundos de investimento mundial reflete aquilo que o movimento B quer que as empresas sejam e mostra que a aposta na sustentabilidade não é apenas uma moda nem apenas para quem se preocupa com o ambiente.

 

Millennials sensíveis a estas questões

Os millennials, ou a geração de pessoas que nasceu entre 1981 e 1996, está também mais sensível às questões relacionadas com a sustentabilidade. Um artigo da Forbes do final de 2017 indicava que esta geração é muito mais envolvida nas causas filantrópicas, e que uma das formas que as empresas têm de apelar a estes consumidores é serem exemplares no que toca à responsabilidade social.

Mesmo não sendo millennials, muitos de nós temos consciência dos reais custos dos produtos baratos. “Eu posso ficar muito contente por comprar um brinquedo barato para os meus filhos, mas tenho de ter consciência que ao comprar esse brinquedo estou a fomentar trabalho infantil. Temos de começar a refletir o real custo das coisas no seu preço, para podermos deixar um mundo com futuro aos nossos filhos”, diz Luís Amado. 

 

Boa Energia

“A Boa Energia nasceu com objetivo de impactar social, ambiental e economicamente no mundo das energias renováveis, em particular na energia fotovoltaica. Fomos pioneiros nos kits de autoconsumo, promovemos formas de financiamento alternativo em projetos de energia fotovoltaica.

A razão pela qual aceitámos o desafio de ter aderido ao movimento B é um carimbo diferenciador que promove uma rede de quem quer, além de criar riqueza, fazer bem, ser exemplar. A nossa forma de fazer negócios é sempre a mesma, porque já está na génese da Boa Energia o foco em servir todas as partes envolvidas no negócio de forma honesta e competente.”

Miguel Aroso, sócio fundador da Boa Energia

 

Mas e quando temos consciência, mas não os fundos para comprar um produto mais sustentável? Se é verdade que muitas vezes os produtos sustentáveis são mais caros, Luís Amado considera que a sustentabilidade tem de ser competitiva. E ao massificar-se este tipo de negócio, isto terá como consequência o baixar de preços e a redistribuição da riqueza.

No fundo, depende também de nós, consumidores, obrigar as grandes empresas a mudar a forma como se relacionam com o planeta. Quanto mais votarmos com a carteira, mais depressa todos percebem a importância de olhar para a Terra como uma casa que temos de respeitar.

 

Ao longo das próximas semanas, iremos publicar vários artigos relacionados com este tema. Esteja atento.





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