Empresas esquecem emissões de gases das cadeias de abastecimento



Menos de metade (41%) de 18.500 empresas globais analisadas divulga emissões de gases com efeito de estufa das suas cadeias de abastecimento e uma percentagem muito reduzida exige dos fornecedores redução de emissões, revela um estudo hoje divulgado.

Da responsabilidade do CDP (Carbon Disclosure Project), uma organização que opera o sistema global de divulgação para que investidores, empresas, cidades, estados e regiões façam a gestão dos impactos ambientais, o relatório resultou de uma investigação à ação de 18.500 empresas mundiais sobre os impactos das cadeias de abastecimento, que são por norma 11,4 vezes superiores às emissões diretas de gases com efeito de estufa (GEE) dessas empresas.

A investigação mostrou também que só 0,04% das empresas exige dos fornecedores o estabelecimento de objetivos elevados de redução de GEE, e que só 1% das empresas ajuda os fornecedores diretos a reduzir os impactos na desflorestação.

Do total das empresas, quase 70% ainda não avalia o impacto da sua cadeia de valor na biodiversidade, apesar de estarem a ser preparadas leis europeias nesse sentido.

Num comunicado sobre a investigação, o CDP alerta que as leis nesta matéria serão reforçadas nesta década e que as empresas podem ficar para trás no rastreio das emissões de GEE das suas cadeias de abastecimento, pelo que são instadas a rapidamente envolver os fornecedores em relação à natureza e ao clima.

O relatório, “Scoping out: Tracking nature across the supply chain”, conclui que a liderança na divulgação dos impactos ambientais não está a acontecer numa escala e rapidez necessárias, provado no facto de só 41% das empresas divulgarem emissões mais globais de GEE.

Um acordo alcançado em dezembro de 2022 na cimeira sobre a biodiversidade realizada no Canadá (COP15) – exortando os países a encorajar as grandes empresas e instituições financeiras a avaliarem os riscos, impactos e dependências em relação à biodiversidade até 2030 – não tem expressão na análise hoje divulgada, já que 70% das empresas disseram que não avaliaram esses impactos.

“A maioria das empresas ainda não reconheceu que tem de identificar os impactos da cadeira de abastecimento, em conjunto, nas alterações climáticas e na natureza”, diz-se no documento, salientando que do total de empresas (mais de 18.500) cerca de 7.000 divulgaram no ano passado dados sobre o envolvimento dos fornecedores nas alterações climáticas, 915 no envolvimento na questão da água e 500 na questão das florestas.

O CDP nota, no entanto, que a taxa de envolvimento das empresas para com os fornecedores é mais elevada em relação à desflorestação, sendo três vezes mais baixa em relação à água.

A organização nota que “um pequeno mas crescente” número de empresas está a assumir a liderança colocando a natureza no “business as usual”.

“Uma em cada 10 empresas inclui requisitos relacionados com o clima nos seus contratos com fornecedores, e isto também está a acontecer, em certa medida, com a desflorestação. No entanto, a maioria destes requisitos ainda não está alinhada” com o objetivo de limitar o aumento das temperaturas a 1,5 graus celsius (Cº) acima dos níveis da era pré-industrial, “com menos de 1% (0,04%) de todas as empresas a exigirem aos seus fornecedores que estabeleçam metas de base científica”, diz o CDP.

Salientando a importância da descarbonização das cadeias de valor, Sonya Bhonsele, responsável do CDP pela área das empresas e cadeias de valor, salienta que o relatório mostra que “a ação ambiental não está a acontecer à velocidade, escala e alcance necessários para limitar os aumentos da temperatura global a 1,5Cº”, porque muitas empresas “ainda não reconhecem que o seu impacto sobre o ambiente vai muito além das suas operações”.

E avisa que se as empresas não se prepararem para futuros regulamentos sobre a natureza na cadeia de abastecimento vão correr riscos e perder oportunidades. “Muito simplesmente, se uma empresa quiser estar em atividade no futuro precisa de começar a integrar a natureza na forma como compra e colabora com os fornecedores para impulsionar a ação na cadeia de abastecimento”.

Salientando que o clima é só uma parte dos problemas que a humanidade enfrenta, que a natureza inclui as florestas, a água e a biodiversidade, o relatório salienta que as empresas têm de olhar mais além do impacto direto e têm de influenciar e envolver os fornecedores.





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