Este peixe é o único vertebrado que vive nas regiões mais profundas do oceano. E agora sabe-se o segredo da sua sobrevivência
O Pseudoliparis swirei é uma espécie de peixe de aspeto alienígena e gelatinoso que vive no Oceano Pacífico, a mais de seis mil metros abaixo da superfície, na chamada zona hadopelágica. É, por isso, o único vertebrado marinho que vive às maiores profundidades oceânicas.
Habitando a escuridão e enfrentando pressões bastante elevadas, este peixe está perfeitamente adaptado às duras condições ambientais, que seriam fatais para qualquer outro vertebrado.
Para desvendar o segredo da sua sobrevivência nesse ambiente praticamente inóspito, um grupo de cientistas da Northwestern Polytechnical University, na China, e da Academia Chinesa da Ciências recolheram quatro espécimes de P. swirei na Fossa das Marianas. Para poderem perceber o que torna essa espécie diferente das demais, recolheram também quatro espécimes de Liparis tanakae, um parente próximo do P. swirei que habita águas menos profundas. As duas espécies terão divergido há cerca de 18 milhões de anos.
Através de tecnologias de análise genética, os investigadores perceberam que o misterioso P. swirei possui várias cópias de dois genes – cldnj e fthl27 – que lhe permitem reter a sua capacidade auditiva nas profundezas oceânicas e resistir às grandes pressões aí encontradas.
Explicam os autores que o gene cldnj é responsável pela formação de estruturas de carbonato de cálcio do ouvido interno, e o P. swirei tem três cópias dele. Como a acumulação de carbonato de cálcio não é tão eficiente a profundidades além dos quatro mil metros, os cientistas acreditam que essa multiplicação do gene é o que permite a este peixe manter a capacidade auditiva para lá dos seis mil metros, um sentido fundamental na zona hadopelágica onde a luz solar não penetra e a visão é praticamente inútil.
Quanto ao gene fthl27, explicam que tem como função codificar a proteína ferritina, responsável pelo armazenamento de ferro nas células e, assim, fundamental para a produção de hemoglobina. O P. swirei tem 14 cópias desse gene, face às três do L. tanakae, e os cientistas dizem que é isso que permite ao animal sobreviver abaixo dos seis mil metros.
Os autores desta investigação reconhecem que são precisos mais trabalhos para consolidar os resultados a que chegaram, e salientam que será importante perceber como é que o sistema nervoso do P. swirei evolui para suportar a enorme pressão hidrostática da zona hadopelágica.
Para Shunping He, da Academia Chinesa de Ciências e um dos autores do artigo divulgado na publicação ‘eLife’, esta investigação permitiu “aprofundar o nosso conhecimento sobre as origens e mecanismos adaptativos desta espécie”.
O cientista, com base no trabalho da sua equipa, avança que o P. swirei só no último milhão de anos terá entrado na zona hadopelágica, “depois de a Fossa das Marianas estar completamente formada”, tendo depois conquistado as profundezas de outros oceanos.