Estrelas-do-mar podem ajudar a proteger os ‘sumidouros de carbono’ que são as florestas marinhas de kelp



As florestas marinhas de laminárias (kelp) suportam uma grande diversidade de vida, desde mamíferos como os leões-marinhos, baleias e lontras, até a aves como as gaivotas e os esternídeos, passando por inúmeros peixes.

Além de servirem de proteção e de alimento, estas algas, que podem atingir comprimentos de mais de 40 metros, são fotossintéticas, o que significa que podem aprisionar dióxido de carbono nas suas raízes e nas suas longas ‘folhas’ laminadas. Por isso, são um importante aliado no combate às alterações climáticas e a sua proteção é crucial.

As florestas de kelp suportam uma grande diversidade de espécies, como as lontras marinhas, que nelas encontram alimento e proteção contra predadores.
Foto: Kieran Wood / Unsplash

No entanto, além do aquecimento das águas, da sua extração excessiva e da poluição estarem no topo da lista das principais ameaças à sua sobrevivência, as laminárias enfrentam ainda outro perigo: ouriços-do-mar (Strongylocentrotus purpuratos), um dos herbívoros mais abundantes nas florestas de kelp.

Os ouriços-do-mar da espécie Strongylocentrotus purpuratos têm devastado as florestas de laminárias na costa ocidental dos EUA, devido ao desaparecimento de um dos seus maiores predadores, da estrela-do-mar Pycnopodia helianthoides.
Foto: Jon Sullivan / Wiki Commons

Grandes populações de ouriços-do-mar podem impossibilitar o desenvolvimento das laminárias e, com isso, a formação de florestas submarinas. Mas a Natureza vive de equilíbrios, e onde uma parte da equação ecológica fica descompensada, procura introduzir um fator de estabilização. E um grupo de investigadores dos Estados Unidos acredita ter descoberto a resposta para a devastação que tem sido causada às florestas de kelp pelos ouriços: uma estrela-do-mar da espécie Pycnopodia helianthoides, um predador generalista com uma ampla distribuição ao longo de toda a costa ocidental norte-americana.

Estrela-do-mar da espécie Pycnopodia helianthoides.
Foto: Steve Lonhart

Através de experiências laboratoriais, os cientistas conseguiram perceber que essa estrela-do-mar é capaz de consumir ouriços a uma velocidade suficiente para manter a saúde das florestas de kelp nessa região, e até mesmo para permitir a sua recuperação. Por isso, num artigo publicado na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, defendem a implementação de programas de conservação dessa estrela-do-mar, porque desde 2021 é considerada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como sendo uma espécie ‘criticamente ameaçada’, sobretudo devido a doenças provocadas pela subida da temperatura da água do mar.

Com a diminuição destas estrelas-do-mar, especialmente a partir de 2013, com uma perda populacional estimada de mais de cinco mil milhões de indivíduos, os ouriços, sem um dos seus principais predadores, multiplicaram-se nas florestas de kelp, devorando-as sem trégua e intensificando a pressão já causada por ondas de calor marinhas.

Devido a essa proliferação massiva, já foram observados ‘tapetes’ de ouriços-do-mar no leito de florestas de kelp dizimadas, muito deles num estado de dormência, um mecanismo que lhes permite sobreviver sem alimento durante anos até que as laminárias voltem a crescer. Outros predadores de ouriços, como as lontras marinhas, tendem a evitar comer esse ‘ouriços zombie’, por serem menos nutritivos, fazendo com que a ameaça se mantenha, ainda que dormente.

Mas as estrelas-do-mar P. helianthoides não são esquisitas e alimentam-se de todos os ouriços, mesmo dos que estão nesse estado de subnutrição, pelo que são um agente de controlo populacional muito mais eficaz.

É por isso que os investigadores pedem a implementação urgente de medidas que permitam proteger as poucas P. helianthoides que sobrevivem hoje e recuperar a sua população, pois acreditam que sem a intervenção humana tal não poderá acontecer, pelo menos não a tempo de se evitar o colapso das florestas de kelp.





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