Estudo estima que planos de contingência para ondas de calor reduziram 35% das mortes



A implementação dos planos de contingência para ondas de calor (PCOC), desde 2004, pode ter contribuído para reduzir 35% das mortes associadas ao calor e poderão ainda evitar uma “percentagem importante” de mortes, segundo um estudo do INSA.

A investigação do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, divulgada no último Boletim Epidemiológico Observações, pretendeu estimar o impacto dos PCOC na mortalidade, através da comparação da mortalidade diária por todas as causas em períodos de calor adverso antes da aplicação dos planos (2000-2003) e logo após a sua implementação (2005-2008).

Os resultados preliminares da investigação “Será que os planos de contingência para ondas de calor reduzem a mortalidade associada ao calor? Um estudo da diferença das diferenças em Portugal” apontam que “a implementação dos PCOC teve um impacto estatisticamente significativo na redução da mortalidade diária média por todas as causas, em períodos de calor extremo, na população geral de Portugal continental”.

“Estimamos que tenham sido prevenidos, no total, uma média de 1.059 (óbitos por todas as causas, em períodos de calor extremo, entre 2005 e 2008, período de vigência do PCOC. Ou seja, foram prevenidos, em média, cerca de 35% dos óbitos por todas as causas que se verificariam em períodos de calor extremo”, caso não tivessem sido desenvolvidos estes planos, lê-se no trabalho.

O estudo sugere, também, que “há uma percentagem importante de mortes associadas ao calor, cerca de 65%, que poderão ainda ser evitadas”.

Nos períodos de excesso de calor, verificou-se “uma redução na média da mortalidade total de cerca de três óbitos diários em média”.

Ao nível das regiões de saúde, observou-se uma redução na média da mortalidade diária por todas as causas após a implementação dos planos, em períodos de excesso de calor, “estatisticamente significativa” para as regiões do Norte, Alentejo e Algarve.

Nos períodos de calor extremo a região Centro é a única onde não se observa uma redução estatisticamente significativa.

“Apesar do número total de óbitos diários prevenidos, em média, nestas regiões ser indicativo de um impacto efetivo dos PCOC na mortalidade diária em períodos de calor adverso, o facto de estarmos a lidar com números pequenos faz com que estes resultados devam ser interpretados com cautela”, ressalvam.

Esta situação aplica-se principalmente na região do Algarve, em que os períodos de calor adverso são definidos tendo em conta a temperatura medida numa estação meteorológica única para toda a região, sublinham.

Os investigadores defendem que são necessários estudos complementares de avaliação do grau da aplicação dos PCOC ao longo de todo o sistema de saúde, assim como estudos de efetividade das medidas neles contempladas, comparando com boas práticas internacionais com comprovada efetividade na proteção da saúde da população em períodos de calor extremo.

Recomendam “vivamente o uso de métodos quase experimentais, como o DID [método da diferença das diferenças], para avaliar o impacto dos planos de contingência e ajustar a sua implementação, visando o desenvolvimento de melhores medidas e políticas de saúde pública que sejam efetivas na redução do impacto do calor na saúde das populações”.

A publicação do INSA divulga também um estudo sobre o excesso de mortalidade em Portugal associado ao período de calor extremo ocorrido entre 01 e 06 de agosto de 2018, que estima que tenha havido um excesso de 707 óbitos, correspondendo a uma taxa de excesso de 6,9 óbitos por 100.000 habitantes.

A região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), o grupo etário com 85 ou mais anos, e o género feminino foram os grupos que apresentaram as taxas de excesso mais elevadas (11,7/100.000 habitantes),

126,7/100.000 e 8,4/100.000, respetivamente).

O estudo salienta que “a taxa de excesso de mortalidade de LVT foi superior à estimada para Portugal, o que pode traduzir um diferente nível de exposição, ou de vulnerabilidade, das populações”.





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