Expansão humana pode estar a pôr em risco mais de 80% dos locais mais importantes do mundo para a biodiversidade



“É preocupante que os desenvolvimentos humanos existam na vasta maioria dos locais que foram identificados como sendo críticos para a Natureza”. É com estas palavras que Ashley Simkins, investigador da Universidade de Cambridge, quer alertar o mundo para o perigo que a vida selvagem enfrenta hoje por causa da expansão das zonas urbanas, de estradas e de linhas de transporte de eletricidade.

Simkins e a sua equipa, composta por cientistas do Reino Unido, do Quénia, da Noruega, estudaram os impactos das infraestruturas humanas em 15.150 áreas-chave para a biodiversidade (ou KBA, na sigla inglesa) em terra, uma rede global de locais de grande importância para a conservação da vida selvagem devido à sua riqueza ecológica e por albergaram populações significativas de animais, plantas e fungos. Por isso, as KBA são fundamentais para proteger a biodiversidade do planeta.

Contudo, num artigo divulgado hoje na revista ‘Biological Conservation’, os cientistas revelam que, das KBA abrangidas pelo estudo, pelo menos 80% continham algum tipo de infraestrutura, sendo que as mais comuns eram as estradas (75%), as linhas de transporte de eletricidade (37%) e áreas urbanas (37%).

E perceberam também que os planos que estão hoje em desenvolvimento para a criação de novas infraestruturas podem fazer aumentar, no futuro, as KBA com explorações mineiras das atuais 754 para 2.955 (+ 292%), com infraestruturas de petróleo e gás das atuais 2.081 para 3.589 (+ 72%) e com centrais de produção de energia das 233 que hoje existem para 1.605 (+ 589%).

“Sabemos que as infraestruturas são essenciais para o desenvolvimento humano, mas trata-se de construir de forma inteligente”, argumenta Simkins, e isso passa por evitar a construção em zonas de grande importância para a biodiversidade, ou, pelo menos, reduzir ao mínimo os impactos nessas áreas.

Se as infraestruturas têm mesmo de estar nessas KBA, então, defende o investigador, “devem ser concebidas para causar o menor dano possível”.

O trabalho permitiu perceber que é na América do Sul, na África subsariana, central e sul e em partes do sudeste asiático que se concentra a maior parte de infraestruturas, já concretizadas, em desenvolvimento ou em fase de projeto, que estão localizadas em áreas de grande importância internacional para a biodiversidade.

Simkins afirma que muitos dos projetos de extração de minerais em zonas KBA de devem ao aumento da procura por metais para, por exemplo, a construção de painéis solares e turbinas eólicas, pelo que, sem “soluções inteligentes para a crise climática”, podemos estar a tentar resolver um problema ao mesmo tempo que criamos outros.

Stuart Butchart, outro dos coautores, aponta que “a ampla destruição ou degradação de habitats naturais em KBA pode levar a extinções massivas, pelo que as infraestruturas existentes nas KBA têm de ser geridas de forma a minimizar os impactos”, e salienta que novas construções nessas áreas devem ser “evitadas a todo o custo”.

Apesar de defenderem que existem provas de que a presença e operação dessas infraestruturas humanas ameaçam a biodiversidade, os investigadores consideram que são necessárias mais investigações para se perceber, realmente, quais os impactos dessas infraestruturas nas perdas de biodiversidade nas áreas KBA, para que seja possível implementar medidas que atenuem ou travem mesmo esses declínios.





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