Falta de financiamento pode atrasar Grande Muralha Verde em África
A ONU alertou que a falta de financiamento poderá atrasar o projeto Grande Muralha Verde, para combater a degradação da terra e o subdesenvolvimento no Sahel, onde mais de metade da população vive abaixo do limiar de pobreza.
A Grande Muralha Verde está a ser coordenada pela Agência Pan-africana da Grande Muralha Verde (GGW, na sigla em inglês), para a restauração e gestão sustentável da terra nas regiões do Sahel e do Saara.
Em declarações à agência Lusa, o coordenador da iniciativa da GGW do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla em inglês), Adamou Bouhari, citou um relatório sobre o projeto a alertar que o atual nível de financiamento e ritmo de implementação do projeto não permitirá alcançar as suas metas.
O relatório foi divulgado durante a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, em setembro de 2021, o que levou à promessa, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), de doações de cerca de 17 mil milhões de euros para o projeto, metade dos quais já foram assegurados, segundo a mesma fonte.
O projeto tem como financiadores as Nações Unidas, a União Africana, o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento, a União Europeia e a cooperação bilateral da Agência Francesa de Desenvolvimento do Governo turco, entre outros.
O multimilionário norte-americano Jeff Bezos indicou, na altura, que a sua fundação iria doar o dinheiro que fosse necessário para ajudar a combater a degradação da terra, particularmente em África.
A iniciativa foi proposta pela primeira vez em 2005 pelo antigo Presidente da Nigéria Olusegun Obasanjo.
Em 2007, a União Africana (UA) aprovou a “decisão sobre a implementação da Muralha Verde”, disse Bouhari.
“O objetivo da GGW era originalmente criar uma barreira de 15 quilómetros de largura e 8.000 quilómetros de comprimento ao longo do Sahel, alcançado 20 países desde o Senegal, a oeste, até ao Djibuti, a leste”, explicou o coordenador.
Todavia, “esta visão foi agora transformada numa abordagem de gestão integrada dos ecossistemas”, que se preocupa também com “o uso do solo e vegetação, incluindo a gestão sustentável das terras secas, a regeneração da vegetação natural, bem como a conservação da água”, anunciou.
O crescimento da população levou a um aumento da procura de produtos alimentares, bens e serviços provenientes da exploração dos recursos naturais.
Cerca de 695 milhões de pessoas vivem na região abrangida pelo projeto.
“As populações locais do Sahel e do Saara estão muito expostas e são cada vez mais afetadas pelos impactos das alterações climáticas e da degradação da terra”, declarou.
Desta forma, “as suas bases e sistemas de produção, já severamente afetados, tornar-se-ão ainda mais vulneráveis. A resiliência socioeconómica das comunidades locais é assim reduzida se não forem tomadas medidas de conservação e de boa gestão dos recursos naturais”, acrescentou Adamou Bouhari.
No entanto, segundo o coordenador, “é igualmente importante sublinhar que a urbanização acelerada invade as áreas de produção e conduz a mudanças, tanto positivas, como negativas em termos sociodemográficos, económicos, ecológicos e culturais”.
Assim, “a combinação destes fatores – crescimento populacional, degradação e desertificação da terra, alterações climáticas – cria condições de grande vulnerabilidade caraterizada pela insegurança alimentar e aumento da pobreza”, acrescentou.
Para Bouhari, “os setores essenciais para as populações e as economias dos países são a agricultura, a pecuária, a silvicultura, a água, a pesca e o turismo, bem como a energia”, que “dependem diretamente do ambiente para os seus respetivos crescimentos, a fim de satisfazer as necessidades básicas dos países e de aliviar a pobreza a curto e médio prazo”.
Os países do Sahel têm enfrentado muitos desafios de segurança, sendo que na última década “houve um aumento do terrorismo, atividades criminosas, redes de drogas e produtos ilícitos”.
Para Bouhari, “no cerne dos conflitos na região da GGW estão a falta de oportunidades económicas para os jovens, resultando numa elevada taxa de desemprego juvenil, pobreza e a tendência para procurar rendimentos fáceis”.
Há também “a degradação da terra e as alterações climáticas que afetam as comunidades, assim como a ausência ou insuficiência dos serviços sociais básicos (saúde, energia, água, educação, etc)”.
“O défice de governação em termos de equidade e justiça” é também um fator, pois “cria sentimentos de marginalização e exclusão”.
“Esta situação de insegurança acentua a migração interna, com refugiados, e as deslocações, quer na direção dos países costeiros, como para a Europa ou os Estados Unidos”, concluiu.