Físicos de Aveiro descobrem os porquês para rotação caótica das luas de Plutão
Em Junho deste ano, a prestigiada revista Nature anunciou que quatro das cinco luas de Plutão têm uma rotação caótica. Numa investigação conduzida pelos cientistas Mark Showalter (Instituto SETI) e Doug Hamilton (Universidade de Maryland), dos Estados Unidos, foi desvendado que a rotação das luas Nix, Hydra, Kerberos e Styx, ao contrário do que acontece com as luas até agora descobertas de grande parte dos planetas, não é constante e varia de forma imprevisível ao longo do tempo.
Por explicar, no entanto, ficou o porquê deste inesperado fenómeno. Dois meses depois a justificação chegou do Departamento de Física (DFis) da Universidade de Aveiro (UA) e foi revelada ao mundo no último número da revista “Astronomy & Astrophysics Letters”.
No trabalho da equipa internacional liderada pelo DFis a razão para estranha rotação das quatro luas de Plutão é explicada aplicando as leis da física. Para compreender este problema, aponta Alexandre Correia, coordenador da investigação e especialista em sistemas solares, planetas extrassolares e física planetária, “é necessário ter em conta dois factores que distinguem estas pequenas quatro luas de todas as outras”, nomeadamente de Caronte, a outra lua de Plutão que tem uma rotação regular.
Assim, “devido [às quatro luas em causa] serem corpos de pequenas dimensões com diâmetros inferiores a 50 quilómetros, elas assemelham-se mais a asteróides em forma de batata do que a corpos esféricos como a Lua da Terra”. Têm sempre por isso, aponta Alexandre Correia (na foto), um eixo mais alongado.
Outro dos factores que fazem Nix, Hydra, Kerberos e Styx um conjunto único no sistema solar é que, ao contrário das quatro pequenas luas, a maior lua de Plutão, Caronte, “é quase tão grande como Plutão [tem 10 por cento do tamanho de Plutão], pelo que, tecnicamente, o sistema Plutão-Caronte deve ser classificado como um sistema binário [sistema com dois corpos de dimensão semelhante que orbitam em torno do centro de massa comum] e não de sistema Planeta-Lua”.
Se Caronte não existisse, explica o investigador, “as pequenas luas iriam evoluir por efeito de maré até ficarem síncronas com Plutão, como seria de esperar”. Noutro cenário, se só existisse Caronte, “as pequenas luas iriam apontar o eixo maior na direcção de Caronte até, igualmente, ficarem síncronas” com esse corpo celeste.
No entanto, como existe Plutão e Caronte, “as pequenas luas ficam ‘indecisas’ e umas vezes tendem a apontar o eixo maior para Plutão, outras vezes para Caronte, dependendo de quem passou mais próximo”. Garante Alexandre Correia que “esta alternância entre a perturbação de Plutão e de Caronte tem como consequência uma rotação irregular das pequenas luas, pois elas nunca conseguem chegar a ficar síncronas nem com Plutão nem com Caronte”.